O amor como oportunidade de crescimento e humanização.

Por Juliana Santos

No mito do Andrógino, de Platão, encontramos que no início dos tempos o ser humano original era macho e fêmea. E eram seres tão perfeitos e de capacidades tão maravilhosas que rivalizavam com os deuses. Estes, irritados pelas incontáveis façanhas dos humanos, cortaram-lhes em duas metades, separando masculino e feminino. Desde então, numa saudade sem fim, os dois aspectos lutam para se reunir novamente.

Os mitos são expressões simbólicas daqueles padrões de comportamento e dramas psicológicos humanos presentes em qualquer tempo e lugar da civilização. Assim, para a Psicologia Junguiana, o mito do Andrógino se encarna numa visão de totalidade do Ser, que só realiza o seu caminho de auto realização na integração dos elementos feminino e masculino.

Para Jung, todo homem tem em seu interior um princípio feminino a ser considerado, a este, chamou Anima. Ao princípio masculino da mulher, deu o nome de Animus. Independe da vontade de nosso Ego, esses princípios compõem a nossa personalidade e interferem em nossa vida concreta, de diferentes maneiras! Se reconhecidos e integrados, podem ser muito favoráveis ao nosso caminho de realização humana, mas se ignorados, tornam-se bastante destruidores.

A sociedade e a cultura nos impõem de modo bastante claro e delimitado papéis de homem e de mulher, o que cabe a cada um de nós! Esta postura polarizada na maioria das vezes nos faz assumir posturas rígidas e alienadas que nos afastam das verdades individuais de nosso Ser. Anima e Animus não estão ligados ao gênero.

Jung quis que entendêssemos que somos mais do que aquilo que nos ditam para sermos. Não somos isso ou aquilo, de lá ou de cá, simplesmente Somos, com todas as polaridades de nossas vidas! Afinal, como dizia ele, ninguém se torna iluminado por imaginar caminhos de luz, mas sim por tornar consciente a escuridão. É, portanto, apenas na integração dos opostos que temos lampejos de totalidade e plenitude!

Os princípios da Anima e do Animus têm funções bastante diferentes! Ela é para o homem uma mediadora entre a sua consciência e seu inconsciente, ajudando-o a ser psicologicamente esclarecido e livre para se relacionar com os valores do Eros, primordiais nas relações. Por sua vez, o Animus é para a mulher como um guia a conduzir-lhe rumo à sua realidade mais profunda, à sua própria alma feminina.

O problema está quando decidimos nos perder na multidão e ignoramos esses elementos mais profundos de nossa Psique. Revoltados, eles tomam conta de nossa personalidade de modo bastante negativo, projetando-se sobre figuras externas através da supervalorização, subvalorização ou fascinação pelos parceiros.

Na projeção, os nossos relacionamentos duram apenas enquanto o Outro satisfaz nossos sentimentos e fantasias sexuais. Neste estado de alienação, acreditamos piamente que nosso encontro com eles, masculino e feminino, acontecerá fora de nós, quando encontrarmos a nossa cara metade. Assim, passamos a vida jogando nas costas de alguém o peso da tarefa de nos tornar completos e felizes! Sem nos darmos conta que um encontro genuíno e humanizante com o Outro só pode acontecer de fato quando antes unimos as partes separadas e soltas de nós mesmos.

Aqueles que buscam realizar o seu potencial e têm coragem de viver, logo aprendem que tudo na vida tem dois lados. Um é luz e o outro é Sombra.”

O caminho de auto realização de nossa humanidade é uma tarefa árdua e infelizmente nem todos o conseguem percorrer. A negação da Anima e do Animus causa efeitos desastrosos não apenas nos encontros entre os sexos, mas para toda a humanidade. Isto porque a fúria do Animus se expressa em forma de desamor, ignorância, rigor, preconceitos e egoísmo. A da Anima retira dos homens a capacidade de relações genuínas carregadas de afeto e intimidade, prejudicando-lhes a função afetiva e a manifestação da ternura.

Nesta altura do texto você pode-se perguntar: Ok, e onde entra o amor nesta história toda?!

E eu arrisco dizer-lhes que amor resta aos que conseguiram exterminar as projeções e conseguem suportar a humanidade ordinária de quem se escolhe amar, ao mesmo tempo em que colhe nos olhos, gestos e palavras do amado o reflexo de suas luzes e Sombras. Sim… A relação genuína nos revela a nós mesmos a cada dia!

Se um dia me permitires um amor, permita-me também a memória sempre viva do Outro dentro de mim, para que minha convivência não se automatize!

Que minha ânsia da plenitude amorosa do Ser não se submeta apenas ao desejo sensual ou ao dever.

Que a gente converse… que a gente dê as mãos!

Que a nossa vida seja um ritual de confronto, onde o meu Ego lhe aponte a luz e a Sombra e na mesma medida, que o meu se humilhe ao dele.

Não quero apenas a minha plenitude, mas também a dele…

E quando meu coração se acalentar pela certeza de ter encontrado um amor,

Que a Tua presença nos inunde.

Amém!

Juliana Pereira dos Santos – Psicóloga, especialista em Psicologia Clínica Junguiana. Aprimoranda em Psicopatologia e Psicologia Simbólica pelo Instituto Sedes Sapientiae e Coach formada pela Sociedade Brasileira de Coaching. CRP: 06/ 108582

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