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Nós, os imperfeitos

Metade do mundo ri da outra metade, e ambas são tolas
( Baltasar Gracián )

Pequenas inconveniências diárias podem ser irritantes; o senão dos outros pode ser muito desagradável. Ninguém gosta da deselegância dos convictos de suas certezas. Ninguém tolera os egoístas e os ingratos, os que não retribuem o amor que lhes é dedicado, estes são inesquecíveis.

Difícil suportar os fúteis; os que falam mas não agem; os que nos esquecem sem entendermos o por quê. Irritante os que perdem o humor no momento em que reina a graça, ainda que unilateralmente. Insuportável os que reclamam apenas pelo hábito de certificar-se de sua falta de controle.

Se o inferno são os outros, não se iludam, somos parte da flama.

Bendito o dia em que se percebe consumida a liberdade do autoritarismo de nossos desejos. Bendito o dia em que nos encontramos acompanhado de nós mesmos e espantados nos vemos cheios de pequenas inconveniências, egoísmos e ingratidões, e nos notamos coberto por certezas, atos e despropósitos. Neste dia percebemos o que somos, e somos o que o outro também é.

Somos feitos de pequenas imperfeições, seres cobertos por certezas equivocadas e desatinos. Quando a arrogância do outro nos alcança, não deveria haver espanto, porque também já estivemos na arrogância, no o dia em que irrompemos na impaciência da espera.

Quando a ingratidão do outro nos fere, há que se achar o anestésico, porque também já ficamos na condição de ingratos, nos dias em que perdemos a memória, a graça e a fé. Quando o mal humor do outro nos assusta há de haver sorrisos, porque também já negamos abraços por falta de disposição de espírito.

Não há nesta vida quem não tenha falado mais do que agido, quando golpeado de paixão jurou esquecer e recordou ou deslembrou daquilo que um dia jurou eterno.

Bendito o dia em que nos percebemos desapropriados de certezas e nos permitimos ser imperfeitamente livres, abarrotados de simplicidades.

Bendito o dia que traz aos nossos olhos nossas próprias imperfeições, porque são elas que nos ensinam a amar.

Imagem de capa: Reprodução

Luciana Chardelli

Luciana Chardelli é carioca, jornalista, escritora e advogada pós graduação em Direito Penal e Processual Penal. É autora do livro "Penso, logo insisto. Um desencontro." Escreve também na Revista Obvious.

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