Pamela Camocardi

Nos ensinaram desde criança: para cicatrizar uma ferida, basta não mexer

Imagem de capa: Soloviova Liudmyla/shutterstock

O ensinamento é certeiro. A teimosia em não obedecê-lo também e o motivo é simples: sofrer por amor é bonito. Amor sofrido transforma-se em arte, em música, em literatura e isso, talvez, explique porque tantos prefiram sofrer por amor em vez de buscar a cura.

Muitas vezes, o amor assiste à própria morte, em outras acaba devagar, dilacerando a alma dos envolvidos e, mesmo que ainda haja sentimentos, o relacionamento não deixa possibilidades de continuar. Rubem Alves, em toda a sua sabedoria, comparava o amor à liberdade: “amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar”.

Somos livres, por direito e por vontade. Por isso, não podemos obrigar ninguém a permanecer ao nosso lado (ainda bem). As pessoas são livres para amarem, ficarem ou partirem. O problema está em saber lidar com isso.

Quando um amor acaba, perde-se o rumo: da vida, das coisas, do tempo. Os sentimentos parecem aflorar e a dor da saudade vem para nocautear qualquer vontade de recomeço.

Há tantas formas de um amor morrer. Há quem acredite em predestinação, outros em culpados. Para Carpinejar, por exemplo, o amor nunca morre de morte natural: “Morre porque o matamos ou o deixamos morrer. Morre envenenado pela angústia. Morre enforcado pelo abraço. Morre esfaqueado pelas costas. Morre eletrocutado pela sinceridade. Morre atropelado pela grosseria. Morre sufocado pela desavença. (…)Morre com um beijo dado sem ênfase. Um dia morno. Uma indiferença. Uma conversa surda. Morre porque queremos que morra. Decidimos que ele está morto. Facilitamos seu estremecimento.”

Toda história, boa ou ruim, deixa feridas. Por aprendizado, por traumas ou por (ainda) amor, mas deixa. E, até cicatrizar, toda ferida dói e dói muito. Às vezes, a cura está no silêncio, na quietude, não autocontrole. É necessário deixar o sangue sair, fazer um curativo e “esquecer” do corte. Pode ser que a cura demore mais do que você imagina, mas, quando menos se espera, cicatriza.

Fim de amor é como uma cicatriz. Quando um corte é cicatrizado, conseguimos ver que o fim de um amor, não é o fim da vida.. É só o final de um caminho, de uma escolha. Sempre haverá outros amores, outras oportunidades, outros sorrisos. Não deixamos de acreditar no amor como um malandro que vende ilusões. Amor é amor e sempre encontrará os dispostos.

Então, apenas não se precipite e não aceite menos do que você merece. Encare suas cicatrizes como um privilégio, afinal, elas estão ali para te lembrarem que você superou todas as dificuldades até hoje. E, se durante o processo de cicatrização, a dor for maior que a força, lembre-se do que disse Caio Fernando Abreu: “existe tanta coisa mais importante nessa vida que sofrer por amor”.

Pamela Camocardi

A literatura vista por vários ângulos e apresentada de forma bem diferente.

Recent Posts

Aborto sem consentimento, invasão e ameaças: os relatos que fizeram a Justiça agir contra Paulo Miklos, da banda Titãs

Medida protetiva não é “detalhe de processo”: quando a Justiça concede, ela cria regras imediatas…

9 minutos ago

Amor, interesse e jogo psicológico: o filme da Netflix que incomoda sem pedir licença — e acerta onde dói

Parece comédia romântica, mas este filme da Netflix joga sujo com amor e dinheiro ❤️‍🔥💸

21 horas ago

Nova técnica criada no Brasil contra o câncer de mama, que congela tumor com nitrogênio líquido, atinge 100% de eficácia

🎗️ Tumor congelado a −140 °C: técnica contra câncer de mama tem 100% de eficácia…

21 horas ago

Após eliminar 75 kg, Thais Carla impressiona seguidores com transformação das curvas do corpo; veja antes x depois

Thais Carla mostra novo corpo após eliminar 75 kg e antes x depois deixa a…

22 horas ago

Olhe para seus dedos agora: o formato deles pode revelar traços da sua personalidade que você nunca percebeu

🖐️ Faça o teste: o formato dos seus dedos pode revelar traços da sua personalidade…

22 horas ago

SBT explica por que episódio de Chaves ficou quase 50 anos inédito na TV

Episódio especial de Natal de “Chaves” nunca tinha passado na TV aberta (até ontem!) —…

1 dia ago