Marcel Camargo

Geralmente, as pessoas nos tratam mal quando sabem que serão perdoadas

Dia desses, conversando com um amigo que é psicólogo, questionei o fato de muitos filhos tratarem mal os pais em casa, enquanto, na rua, possuem um comportamento educado, sendo pessoas queridas e estimadas. Ele então me disse que os filhos são mal humorados com os pais porque têm certeza de que serão perdoados por eles. E isso me explicou muita coisa.

Creio que o medo de que poderemos perder o outro é que nos faz tomar consciência da necessidade de tratá-lo bem, de regarmos os relacionamentos que nos são especiais, com amor e cuidados. Porque a gente acaba se esquecendo daquilo com o que já é costume, colocando no modo automático tudo o que já é uma certeza em nossas vidas. Infelizmente, o que envolve amor e interação humana não sobrevive automaticamente.

Também comecei a refletir sobre a complexidade que o perdão carrega. Perdoar é preciso, porque o peso sai da gente, fazendo-nos olhar com mais clareza os fatos, bem como o nosso papel naquilo tudo que aconteceu. Embora existam situações em que perdoar será extremamente difícil, tamanha a dor que nos tomará, o perdão terá que ocorrer, porque teremos que ir embora sem nada mais que nos prenda a quem nos machucou e deverá ficar lá atrás – longe, nulo, junto ao nunca mais.

Fato é que perdoar todos os erros do outro nunca fará com que ele repense a forma como vem agindo, tornando-o alguém que não muda. Na certeza de que sempre será perdoada, a pessoa tem um passe livre nas mãos, para continuar vivendo do modo que quiser, sem pensar em mais ninguém. Por isso é que perdoar não nos obriga a continuar mantendo o outro em nossas vidas, mas nos tranquiliza nas tomadas de decisão que tomaremos em relação a quem nos machuca.

Muitos se esquecem de que há pessoas ali ao lado, enquanto ficam olhando lá na frente, sem se lembrar de dar as mãos ao que já é amor de fato. Se a gente acaba perdoando tudo, sempre, isso nos afasta, cada vez mais, de nós mesmos, porque então só priorizamos o outro, sufocando o que somos e sentimos sob a necessidade de manter por perto quem deveria sumir da nossa frente. Perdoar faz bem, perdoar-se é vital, pois o adeus, então, ainda que doa, será mais leve e limpo.

Imagem de capa: Photographee.eu/shutterstock

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

Recent Posts

Amor, interesse e jogo psicológico: o filme da Netflix que incomoda sem pedir licença — e acerta onde dói

Parece comédia romântica, mas este filme da Netflix joga sujo com amor e dinheiro ❤️‍🔥💸

5 horas ago

Nova técnica criada no Brasil contra o câncer de mama, que congela tumor com nitrogênio líquido, atinge 100% de eficácia

🎗️ Tumor congelado a −140 °C: técnica contra câncer de mama tem 100% de eficácia…

5 horas ago

Após eliminar 75 kg, Thais Carla impressiona seguidores com transformação das curvas do corpo; veja antes x depois

Thais Carla mostra novo corpo após eliminar 75 kg e antes x depois deixa a…

5 horas ago

Olhe para seus dedos agora: o formato deles pode revelar traços da sua personalidade que você nunca percebeu

🖐️ Faça o teste: o formato dos seus dedos pode revelar traços da sua personalidade…

6 horas ago

SBT explica por que episódio de Chaves ficou quase 50 anos inédito na TV

Episódio especial de Natal de “Chaves” nunca tinha passado na TV aberta (até ontem!) —…

12 horas ago

Saiba como o SBT se saiu no Ibope após trocar Zezé di Camargo por episódio inédito de Chaves

⚠️ Após polêmica, SBT trocou Zezé por Chaves de última hora — e o Ibope…

12 horas ago