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Esse sapato “feio” que parece uma batata virou obsessão na moda — e o motivo é simples

Um dos sinais mais claros de que a moda mudou de rumo nos últimos anos está nos pés das pessoas.

De repente, aqueles sapatos largos, arredondados, meio desengonçados — que muita gente chamaria de “feios” sem pensar duas vezes — começaram a aparecer em tudo quanto é lugar: aeroporto, feed de Instagram, passarela, escritório, supermercado.

O apelido pegou: sapato batata. E é justamente esse formato gordinho, cheio, “inflado”, que virou objeto de desejo em um momento em que conforto passou a pesar mais do que aparência formal.

Quando você olha com carinho para esse tipo de calçado, logo enxerga a família inteira: o slipper da Ugg, queridinho de surfistas, de estudantes e, depois, da moda de luxo; o clog Boston da Birkenstock, com aquela parte da frente arredondada que lembra um legume gorduchinho; mules, slip-ons e tênis que parecem ter sido modelados em argila ou espuma, sempre com a ponta generosa e a sola acolchoada.

Não é coincidência que tanta marca esteja apostando nesse visual: existe uma história longa por trás dessa forma estranha que, de repente, virou tendência.

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O “vai e vem” da ponta do sapato

Ao longo dos anos, a moda vive mexendo no formato do bico dos sapatos: épocas de pontas finíssimas são seguidas por fases em que o desenho arredondado volta com força.

Segundo Elizabeth Semmelhack, diretora do Bata Shoe Museum, em Toronto, os modelos mais largos costumam ganhar espaço quando o pé já passou tempo demais sofrendo com calçados apertados e duros.

Na época do movimento sufragista, entre os anos 1910 e início dos anos 1920, por exemplo, as mulheres começaram a usar botas com pontas curtas e baixinhas, apelidadas de “nariz de buldogue”, como reação aos saltos altos extremamente finos e bicos agudos que vinham antes. Era uma forma de respirar um pouco, literalmente, dentro dos sapatos.

Os “sapatos batata” atuais, explica Semmelhack, têm parentesco direto com modelos ortopédicos que ficaram conhecidos nos anos 1970.

Em meio ao crescimento de mercados naturais, lojas de produtos orgânicos e estúdios de ioga, muita gente se sentiu atraída por calçados que prometiam alinhamento postural, conforto e bem-estar.

Um dos símbolos dessa fase foi o Earth Shoe, modelo dinamarquês com solado curioso, que deixou de ser nicho para virar fenômeno de vendas nos Estados Unidos em 1973.

Das prateleiras alternativas aos tênis gigantes

Mesmo depois que o Earth Shoe perdeu o brilho, o formato arredondado continuou reaparecendo aqui e ali. Em 1994, um artigo do New York Times se referiu ao Nike Air Moc — um tênis sem cadarço, quase um saco que abraçava o pé — como “sapato batata”.

A graça estava justamente no contraste com o Air Jordan, símbolo do tênis atlético, estruturado e cheio de detalhes: o Air Moc era o avesso disso, todo minimalista e fofinho.

Na mesma década, o skate ajudou a reforçar o visual volumoso. Marcas como DC, Etnies e Globe começaram a lançar tênis exageradamente grandes, com línguas grossas, espuma por todo lado e silhueta robusta.

Eram o oposto dos slip-ons finos da Vans: em vez de leveza, acolchoamento total, como se o pé estivesse enterrado numa batata assada prestes a transbordar.

Nada disso, porém, se compara ao momento recente, em que o formato “batata” saiu de nicho e virou regra em muita coleção.

Quando o conforto virou prioridade oficial

A virada decisiva veio na pandemia. Com gente trancada em casa, trocando roupa de trabalho por moletom e passando mais tempo em ambientes informais, a exigência sobre o calçado mudou.

Sapato social duro perdeu espaço para modelos que pudessem ser calçados e tirados rápido, não machucassem e combinassem com um dia de computador, sofá, mercado e reunião no vídeo.

Foi aí que clogs, mules e slip-ons arredondados entraram de vez no radar. Em 2020, o site Hypebeast chegou a chamar o Birkenstock Boston de “o sapato perfeito para o momento”.

Dois anos depois, o modelo continuava em alta, aparecendo entre os produtos mais desejados do Lyst Index, ranking que monitora o comportamento de compra na moda global.

Em paralelo, as Crocs viveram um renascimento curioso. O que já foi tratado como sapato “brega” virou objeto de colaboração com estilistas e marcas importantes, fazendo parcerias com designers como Simone Rocha e até com franquias de entretenimento, incluindo personagens de desenhos e séries. A lógica por trás do sucesso, como resumiu o stylist e comprador Jian DeLeon, era direta: conforto e praticidade.

Birkenstock Boston, clones e variações

Com a explosão de interesse no Boston, o clog da Birkenstock deixou de ser um modelo discreto e virou referência que todo mundo queria copiar ou adaptar.

A marca precisou ampliar a linha: surgiram versões com solado mais robusto, modelos pensados para chefs e trabalhadores que passam o dia em pé, alternativas com forro de pelo competindo diretamente com a Ugg e novas cores e materiais.

A linha de alta gama Birkenstock 1774 passou a receber colaborações com designers convidados. Entre eles, o francês Thibo Denis, da Louis Vuitton, que vê nos sapatos exagerados uma forma de definir a personalidade de quem usa.

Para ele, aumentar a escala do calçado faz com que o pé vire ponto focal do look. Ainda assim, Denis faz uma ressalva: não quer ser visto apenas como o “designer do tamanho gigante” — a preocupação principal, segundo ele, é simples e muito física: “o pé precisa de espaço”.

Yeezy Foam Runner e a corrida pelo sapato mais estranho

Quando o “sapato batata” virou item de desejo, as marcas começaram a testar limites de formato e material.

O professor Dal Chodha, especialista em comunicação de moda na Central Saint Martins, comenta que parte dessa movimentação veio de uma leitura superficial de tendência: se o mercado está comprando sapatos mais largos, muita gente corre para lançar versões parecidas sem pensar tanto no conceito.

Em meio a isso, um modelo específico se destacou: o Yeezy Foam Runner, assinado por Kanye West e lançado em 2020.

Feito em espuma, com recortes vazados e cores que lembram areia e argila, o tênis tinha aparência orgânica, quase escultural, mas sem delicadeza. O visual dividiu opiniões, e justamente por isso se tornou altamente influente.

Nem todas as marcas escolheram seguir a linha “alienígena”. Várias preferiram ficar no caminho seguro: clogs e mules que, de longe, lembram muito o Birkenstock Boston. Prada, Brunello Cucinelli, Isabel Marant, Fendi e Burberry, por exemplo, apresentaram modelos com frente arredondada e estrutura semelhante.

Paralelamente, redes acessíveis como Shein e varejistas como Steve Madden passaram a vender alternativas mais baratas, mostrando que o formato tinha se espalhado da passarela à loja de departamento sem cerimônia.

De trauma de sapato social ao carinho pelo “sapato batata”

Se, de um lado, tem explicação histórica e análise de tendência, do outro existe a experiência concreta de quem usa.

Muita gente que cresceu usando tênis de skate enormes ou sandálias mais largas acabou abandonando esse tipo de calçado ao entrar na vida adulta, trocando por sapatos sociais rígidos ou tênis de perfil baixo, considerados “mais elegantes” para trabalho.

A pandemia reabriu essa conversa. Com o tempo livre em casa e o clima mais informal, quem sempre se virava com oxford, scarpin ou sapatênis começou a testar clogs, slippers inflados, slides com solas mais altas e modelos vendidos como “sapatos de recuperação”, pensados para aliviar o pé depois de um treino ou de um dia puxado.

Aos poucos, a pergunta mudou de “esse sapato é bonito?” para “por que eu me forcei a usar coisa apertada por tanto tempo?”.

O resultado prático apareceu no armário: muita gente vendeu ou largou de vez sapatos duros, investiu em opções mais largas e descobriu que é possível ter um calçado com cara de moda que, ao mesmo tempo, deixa os dedos se espalharem.

Mesmo com o retorno de tendências de tênis mais finos — como modelos retrô dos anos 70, entre eles Adidas Samba e Onitsuka Tiger, além dos chamados “tênis bailarina” — bastou um dia pisando em piso irregular para lembrar por que o “sapato batata” tinha conquistado tanta gente.

E, na hora de sair de casa de novo, o caminho de volta foi rápido: dos tênis estreitos para o clog gorducho, dos sapatos delicados para o modelo que abraça o pé. No fim das contas, entre estética e dor, a frase de Thibo Denis ajuda a explicar por que esse sapato “feio” segue em alta: o pé realmente precisa de espaço.

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Gabriel Pietro

Redator com mais de uma década de experiência.

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