Dados Organização Mundial da Saúde apontavam que 2020 seria o ano em que atingiríamos o ápice de casos de depressão em todo o mundo, transformando-a na doença mais incapacitante. Ninguém poderia prever que uma pandemia viria para deixar o quadro ainda mais grave e alarmante.
Com o estado de quarentena decretado, a exclusão do convívio social pode tornar os transtornos de ansiedade mais agudos, desencadeando problemas pessoais e afetando, sobretudo, tomadas de decisões que podem ecoar em diversas outras esferas.
Não se trata apenas das brigas, dos divórcios e dos desentendimentos familiares gerados por decisões ruins tomadas em circunstâncias atípicas de incerteza e insegurança. É também sobre as escolhas que podem inspirar ações ainda mais nocivas e radicais.
Nesse momento, é essencial cuidar não apenas da saúde física e econômica, mas também da saúde mental. Dela pouco se fala e pouco se quer saber.
Enquanto filósofos como Byung Chul-Han e Slavoj Žižek se digladiam no ringue acadêmico para ver quem tem razão sobre as consequências do vírus para o setor econômico e social, a esfera mental já começa a entrar em parafuso.
Não podemos esquecer que a derrocada da saúde mental representa muito mais do que apenas um problema de cunho pessoal. Ela está conectada a diversas outras instâncias da sociedade e exerce influência direta sobre elas.
Para que uma sociedade consiga se manter nos eixos, é preciso que seus integrantes consigam conduzir suas vidas de maneira autônoma e consciente. O que uma crise como a atual faz é justamente o oposto: ela gera desequilíbrio físico, emocional e mental; esgota o sujeito e, por consequência, descostura o tecido social ao exaurir os recursos da realidade na qual ele está inserido.
Ainda que a ciência tenha avançado rapidamente nas últimas décadas, ela ainda é incapaz de jogar luz sobre muitas das grandes questões da vida e a depressão, naturalmente, é uma delas.
É inegável que as descobertas recentes ajudam e incentivam no trato e na prevenção de quadros de depressão clínica, mas as condições exatas que tornam possível o surgimento da doença continuam envoltas em profunda escuridão.
O que temos até o momento são apenas pequenos vislumbres do que acontece na mente e no corpo de uma pessoa clinicamente depressiva. Enquanto isso, o núcleo do problema continua hermeticamente fechado. Poucas são as respostas se comparadas ao número de dúvidas que ainda assombram pesquisadores e cientistas.
A cada nova tentativa de penetrar mais fundo nos mistérios do depressivo, mais perguntas aparecem. É como tentar montar um quebra-cabeça que multiplica suas peças a cada vez que uma parte dele é resolvido.
“O medo ameaça”, escreveu certa vez o uruguaio Eduardo Galeano. Quanto mais medo, mais histeria. E quanto mais histeria, mais decisões ruins serão tomadas diariamente.
É preciso estar atento e forte, já dizia a canção. Numa época onde a luta pela preservação da vida humana se faz urgente, desconsiderar as implicações mentais que permeiam silenciosamente a presente crise seria um grande erro.
Neste momento tão atípico, cuide da sua saúde física e mental. Cuide de você e de quem te quer bem. Antes de tomar qualquer decisão sobre qualquer coisa, pense, respire, pondere. O resto é consequência.
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