Turistas mal acomodam o pescoço diante de 500 m² de afrescos na Capela Sistina, mas dificilmente imaginam que o autor daqueles painéis passou boa parte do tempo rosnando contra o pincel.
Obcecado por mármore desde muito jovem, o florentino jurava que a verdadeira arte estava nos cinzéis, não nas cerdas. Cartas enviadas a amigos reforçam esse desgosto: ele se dizia “preso a cores que não são minhas”.
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O conflito começou em 1506, quando o temperamental papa Júlio II lhe encomendou um mausoléu gigantesco, com dezenas de estátuas. Falta de blocos de Carrara, atrasos no pagamento e a interferência constante do pontífice fizeram Michelangelo largar a obra e fugir para Florença.
A resposta papal foi pura força: guardas marcharam até a República Florentina com ordens de “trazer o escultor nem que fosse amarrado”.
De volta a Roma, o artista recebeu aquilo que mais temia — quatro anos inteiros de pincel na mão, bem acima da cabeça, sobre andaimes que ele mesmo teve de projetar.
Pintar, para ele, virou castigo oficial. Cada cena bíblica no teto — da Criação de Adão ao Dilúvio — serviu como lembrete de que o papa lhe negara o mármore prometido. Enquanto isso, o túmulo de Júlio II definhava em papéis, protótipos e promessas vazias.
Entre uma demão e outra, surgiram dores nada artísticas: coluna torta, cãibras nos glúteos, torcicolo que ele descreveu em versos amargos a Giovanni da Pistoia. O soneto, escrito em 1509, relata ainda pingos de tinta caindo no rosto e a sensação de “peito comprimido como couro curtido”.
Curiosamente, o mito de que Michelangelo trabalhou deitado é falso. Ele pintava em pé, inclinado para trás, sustentando pincéis longos que escorrendo pigmento nos olhos, geravam inflamações constantes.
Mesmo rabugento, o artista completou o serviço em 1512. O papa vibrou; Michelangelo, não. Ainda queria sua pedra eterna — tarefa que só retomaria anos depois e que jamais chegaria à forma sonhada.
Confira a seguir:
Já ganhei bócio por causa dessa tortura,
curvado aqui como um gato na Lombardia
(ou em qualquer outro lugar onde a água estagnada seja venenosa).
Meu estômago está esmagado sob meu queixo, minha barba
aponta para o céu, meu cérebro está esmagado em um caixão,
meu peito se contorce como o de uma harpia. Meu pincel,
acima de mim o tempo todo, pinga tinta,
então meu rosto vira um belo chão para excrementos!
Minhas ancas estão esmagando minhas entranhas,
minha pobre bunda se esforça para funcionar como contrapeso,
cada gesto que faço é cego e sem objetivo.
Minha pele fica solta abaixo de mim, minha coluna está
toda emaranhada por se dobrar sobre si mesma.
Estou tenso como um arco sírio.
Porque estou preso assim, meus pensamentos
são uma bobagem maluca e pérfida:
qualquer um atira mal com uma zarabatana torta.
Minha pintura está morta.
Defenda isso para mim, Giovanni, proteja minha honra.
Não estou no lugar certo — não sou pintor”.
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