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As vicissitudes de um amor

Existe uma tendência em analisar o amor de forma topográfica, ou seja, como se esse sentimento fosse perceptível através de observação direta ou medição. Por esse ângulo, afirma-se que gostar até seis meses é paixão, ou se envolver por mais tempo é amor. Criamos linhas imaginárias para determinar o que ocorre com nossos sentimentos e ainda colocamos a paixão em lugar menor e improvisado. Desta forma, saindo da realidade, estabelecemos conceitos engessados sobre o amor e suas limitações.

Há quem diga que o amor deva ser sereno, dotado de calmaria, ambiente perfeito para a prática de uma união e não geraria desconforto. Pode ser, mas existem outros amores.

Existe um amor com fuoco, aquele que tem a exigência imediata da paixão e a paciência de quem ama. O prazer pede constante saída, mas a realidade impede o brotar de tais instintos sinceros. O tempo dos amantes é apressado e injusto; não atende ao desejo. Um simples encontro é motivo de tanta alegria, a despedida parece o fim, mesmo sabendo que se verão minutos depois. Os meses passam e tais sentimentos despertam outros mais fortes, e esse amor inflamado ganha relevância. Sentimento de condensações que abriga todas as formas de paixões e amores; um amor híbrido, em essência.

Nesse calor nos acolhemos como se fosse o centro da terra, mas os psicanalistas diriam que estamos nos acolhendo no centro do útero. Uma sensação de retorno e aconchego – uma busca de proteção. Em alguns casos, para amar, é melhor deixar o divã de lado.

Nesse amor condensado que transita entre a ternura e a passione é impossível não ter apego. Necessitamos estar próximos, saber o que o outro faz, como está sua família, se o ar que respira está agradável. Temos delírios de ciúme, aspectos infantis nos assaltam, ficamos inseguros ao tentar segurar. E no fim do dia, a sensação de que não irá amanhecer de tanta saudade.

Como dizer às pessoas que estão neste cenário para não se apegarem na tentativa de evitar o sofrimento? É melhor correr o risco. O amor apaixonado tem apego sim, impossível que não haja o profundo desejo desses dois assumirem uma unidade. Eles querem agir como uma ciência exata; um estar contido no outro, ou A pertence a B. Criar uma interseção ou União. Um conjunto que admite todas as formas de explorar esses sentimentos amorosos que demandam o infinito.

Tenta-se diferenciar, de forma arbitrária, o amor de paixão. Feliz é quem vive os dois ao mesmo tempo, sabendo das conseqüências do incêndio, mas dispostos a reparar, perdoar, incendiar novamente; viver em brasas e não se consumir.

Rafael Souza Carvalho

Jornalista, apresentador do Sentinelas da Tupi (Rádio Tupi -RJ), Licenciado em História e Psicanalista em formação pala Sociedade Brasileira de Psicanálise Integrativa.

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