Por Adriana Vitória

Quando engravida toda mulher que você encontra tem conselhos ou historinhas pra contar, boas e más, e acreditem, foi neste período que me dei conta de que, apesar de todas as qualidades femininas, quando se trata de solidariedade, os homens dão um banho nas mulheres.

Não importa de quem venha, não ouçam! Não vale a pena. Nunca haverá uma historia igual a outra. Cada pessoa é um caso.

Tive uma vida absolutamente normal durante os nove meses da minha gravidez. Trabalhei, me mudei e dirigi ate poucas horas antes da minha filha nascer. Ela veio ao mundo depois de 12 longas horas de trabalho de parto. Foi um dia surreal que nem em meus melhores momentos criativos poderia imaginar.

Fiquei horas em um quarto com cinco homens (2 obstetras, 1 anestesista, 1 pediatra e o pai) a espera de um bebê. Depois de horas de papo e cantorias- o pediatra amava sambas e cantou muito pra mim- ela finalmente começou a vir. Já podia enxergar o topo da sua cabecinha, mas então, ela se moveu um pouquinho e a cabeça ficou presa.

Caos! A primeira vez em que me agarrei ao anestesista e pedi socorro. Era uma dor alucinante que descia pela minha perna.

Mesmo assim não desisti do parto normal, queria continuar tentando.

Pedi que tentassem me segurar de ponta cabeça, quem sabe assim ela não voltaria para descer na posição certa? Eles estavam meio incrédulos, mas concordaram. Acho que ganhei mais dois minutos de chance por merecimento, afinal de contas, quantas mulheres suportariam tantas horas sem reclamar de nada, sem chorar ou gritar ?

A tentativa foi em vão. Ela continuou no mesmo lugar. Não dava mais pra esperar. Dei adeus ao aconchego do quarto e fomos pra sala de cirurgia. Estranhamente não me sentia cansada. Estava ansiosa pra ve-la e, minutos depois, finalmente, ela nasceu. Veio pra mim chorando. Falei com ela e ela se acalmou imediatamente.

Apesar de tudo, foi tudo muito natural pra mim, como se estivesse tendo meu decimo bebê.

Outro dia, o pediatra postou em seu facebook a noticia de que as casas de saude no Rio estavam impossibilitadas de receberem as mulheres em trabalho de parto por causa do enorme número de reservas de partos programados ou cesarianas.

Quando foi que nos distanciamos de nossa natureza feminina? Ninguém é obrigado a sentir dor se não precisa.

Compreendo que algumas mulheres com problemas de saúde tenham que evitar o parto natural, tão defendido corajosamente pelo meu obstetra Marcos Dias, mas chegar a este ponto quando se têm anestesias para amenizar as dores das contrações é demais pra minha compreensão.

Provavelmente não teríamos sobrevivido em outra época ou país, mas estamos aqui e sou grata a todos os que estavam presentes, a Deus e a este dia inesquecível e maravilhoso.

Pra mim, assim como morrer, nascer é um processo que precisa ser vivenciado.

Nota da autora: Para quem quiser saber mais sobre o tema, veja o documentário Partos normal e humanizado

Adriana Vitoria

Mineira de alma e carioca de coração, a artista plástica, escritora e designer autodidata Adriana Vitória deixou Belo Horizonte com a família aos seis meses para morar no Rio de Janeiro. Se profissionalizou em canto, línguas e organização de eventos até que saiu pelo mundo sedenta por ampliar seus horizontes. Viveu na Inglaterra, França, Portugal, Itália e Estados Unidos. Cresceu em meio à natureza, nas montanhas de Minas, Teresópolis, Visconde de Mauá, e do próprio Rio. Protetora apaixonada da Mata Atlântica e das tribos ao redor do mundo, desde a infância, buscou formas de cuidar e falar deste frágil ambiente e dos seres únicos que nele vivem.

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