Deitada em sua cama, durante um longo período de convalescença, Frida pintava. Na arte, a sua figura encontrava expressão. De um espelho, seu retrato surgia na tela. Da imagem resultante, a mulher emblemática por suas cores intensas, dores constantes e intenso amor: o amor pelo México, seu país; o amor por Diego, seu marido infiel.
Frida pintava a si mesma porque, como ela mesma dizia, era o assunto que melhor conhecia.
Sobre seus olhos, uma ponte escura e densa emoldurava o olhar. Suas sobrancelhas eram expressão conectada assim como eram seus sentidos mais puros e sua dor. Nada poderia ser separado sem levar a destruição de todo o ser.
Todos nós, em proporções variadas, temos um pouco de “Frida” e, por isso, a adoramos. Nós também somos cores, intensidade, dores e amores. Somos o que a vida fez de nós e o que fizemos com o que fomos nos tornando. Somos, Frida bem o sabia, “integração e desintegração”, um ciclo perpétuo de reconstrução interna.
Sem a pólio, o acidente com o bonde, Diego e a dor, talvez Frida nunca tivesse chegado até nós. Ela seria uma outra Frida. Talvez não tão sofrida… Assim também somos nós, consequências de nossas próprias histórias, de nossos próprios acidentes, sobreviventes das etapas da vida, muitas vezes até vítimas de nós mesmos.
Para seguir é preciso engolir a culpa e a não aceitação. É necessário abandonar o gosto amargo dos problemas insolúveis e permitir que sejam digeridos e sigam seu caminho possível. Talvez não haja tanta saúde, dinheiro ou a beleza idealizada, mas é preciso que exista o perdão.
Quando perdoamos a nós mesmos, aprendemos a perdoar também aos outros. E o perdão, sentimento superior, é o material de que são feitas as pontes que abrem e reconstroem caminhos, que ligam o nosso melhor e o nosso pior, tornando-nos quem realmente somos, um todo.
Pontes como as das sobrancelhas de Frida, a mulher que pintava a si mesma e que sabia que somos nós mesmos, o nosso melhor material artístico. Somos inspiração, arte e contemplação. Somos começo, meio e fim.
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