“Amor Pleno”, um filme para ver de coração bem aberto

Por Patrícia Sebastiany Pinheiro

Há alguns meses, uma amiga querida me procurou e sugeriu que eu assistisse ao filme “Amor Pleno”, alegando que poderia servir de grande inspiração para os meus textos. “Assista com o coração bem aberto”, disse ela. Logo deduzi que se trataria de um filme diferente.

Eu não estava enganada. O filme não conta com uma sequência linear de fatos e diálogos organizados, como estamos acostumados a ver as histórias sendo contadas; ele é quase um poema. As falas, apesar de raras, são carregadas de significado e passíveis de diversas interpretações, e os gestos, por vezes repetitivos e entediantes como a vida, transbordam verdade.

Uma cena, especificamente, me tocou e permaneceu por dias na minha mente: Marina (Olga Kurylenko) jogava-se, de costas, nos braços de seu companheiro, interpretado por Ben Affleck. Observava-se, quando ela abria bem os braços e se deixava cair, a adrenalina e o medo em seu rosto, em seus olhos que se fechavam como quem espera, num misto de temor e êxtase, o que está por vir, seguidos do riso largo que enfeitava seu semblante agora tranquilo quando, em meio ao nada, braços firmes a seguravam com força.

Não pude deixar de perceber que, em uma simples brincadeira, enxerga-se tanto do que é o amor: a insana coragem de abrirmos mão de algumas defesas e seguranças e, ainda que saibamos o quão cruel é a dor da queda, nos jogarmos – no escuro e de braços bem abertos – em direção ao chão, simplesmente por acreditarmos que o outro estará lá para nos segurar; por carregarmos a fé daqueles que sabem-se amados, que sabem que não há mal no mundo capaz de atingi-los enquanto houver as mãos firmes e amortecedoras esperando do outro lado.

Nosso equilíbrio e força para nos mantermos em pé vêm – e devem vir – das nossas próprias pernas, as únicas que, ainda que fraquejantes, jamais nos trairão. Mas, por vezes, é necessário que nos joguemos.

Nos jogamos, quando, na doença, permitimos que alguém cuide das nossas necessidades essenciais. Nos jogamos ao dividir nossas dores com alguém. Nos jogamos ao permitir que outras vidas segurem as nossas e as embalem no colo.

Quando nossos corpos estiverem cansados demais para caminhar, que ainda existam outros que, capazes ou não de nos carregar, nos confortem e renovem apenas ao proporcionar a serenidade do confiar; a paz que é poder andar ao lado de alguém de olhos fechados, sem medo de cair.

Patrícia Pinheiro

Patrícia Pinheiro tem 25 anos, é natural de Santa Maria - RS, morando em Florianópolis -SC. É formada em Psicologia e amante das palavras. Poeta e escritora, compartilha seu trabalho em suas redes sociais e é colunista do site Conti outra.

Recent Posts

Amor, interesse e jogo psicológico: o filme da Netflix que incomoda sem pedir licença — e acerta onde dói

Parece comédia romântica, mas este filme da Netflix joga sujo com amor e dinheiro ❤️‍🔥💸

9 horas ago

Nova técnica criada no Brasil contra o câncer de mama, que congela tumor com nitrogênio líquido, atinge 100% de eficácia

🎗️ Tumor congelado a −140 °C: técnica contra câncer de mama tem 100% de eficácia…

9 horas ago

Após eliminar 75 kg, Thais Carla impressiona seguidores com transformação das curvas do corpo; veja antes x depois

Thais Carla mostra novo corpo após eliminar 75 kg e antes x depois deixa a…

9 horas ago

Olhe para seus dedos agora: o formato deles pode revelar traços da sua personalidade que você nunca percebeu

🖐️ Faça o teste: o formato dos seus dedos pode revelar traços da sua personalidade…

9 horas ago

SBT explica por que episódio de Chaves ficou quase 50 anos inédito na TV

Episódio especial de Natal de “Chaves” nunca tinha passado na TV aberta (até ontem!) —…

15 horas ago

Saiba como o SBT se saiu no Ibope após trocar Zezé di Camargo por episódio inédito de Chaves

⚠️ Após polêmica, SBT trocou Zezé por Chaves de última hora — e o Ibope…

16 horas ago