cinema

“8 em Istambul”, a série turca que todo psicanalista deveria ver

“8 em Istambul” ( “Bir Baskadir”, no original) é o nome de uma série dramática turca que estreou na Netflix no último dia 12-11-2020. Como gosto de assistir séries estrangeiras pelos diferenciais de produção e pela apreciação de culturas diversas, separei-a. E, eis que ao assistir aos 8 capítulos da primeira temporada, fui presenteada com um dos mais belos retratos sobre como o inconsciente encontra formas de se manifestar, apesar de nossas tentativas de freá-lo.

“8 em Istambul”, com direção e roteiro de Berkun Oya, nos apresenta uma trama que envolve 8 pessoas com vidas e condições sociais diferentes que têm seus caminhos interseccionados e mutuamente afetados por esses encontros.

Engana-se quem, em um primeiro momento, ficar desinteressado por causa de um ritmo que possa parecer lento uma vez que é aos poucos que a ligação entre os personagens vai aparecendo e revelando toda a sua complexidade. Berkun Oya mostrou que entendeu perfeitamente os mecanismos da repressão, transferência e contratransferência. Ao longo dos episódios vemos maneiras diferentes pelas quais uma pessoa pede socorro, assim como assistimos aos mecanismos de defesa adaptativos que elas se utilizam para sobreviver ao seu entorno e aos seus próprios desejos.

Outro ponto a favor da série, ao qual não ofereço grandes detalhes do enredo para não afetar a experiência de quem for ver, é não colocar a psiquiatra, que é psicanalista, e sua supervisora (duas das personagens) em um local hierarquicamente superior da trama: a série mostra seus dilemas e fragilidades assim como deixa muito evidente como elas podem se tornar incapazes de exercer seu trabalho com qualidade quando não resolveram ou estão realmente conscientes de certas questões pessoais. O mesmo acontece com o conselheiro hodja, que é um homem mais velho da comunidade da protagonista Meryem e de sua família. Ou seja, os caminhos da subjetividade individual não escolhem credo, nível de escolaridade ou nível econômico.

A trama segue com inúmeros exemplos de abusos psicológicos, situações de dependência e submissão da mulher, além de exemplos de como a violência pode ser utilizada para mascarar as próprias fragilidades pessoais.

Com ótimo figurino, trama inteligente e flertando com o peso da cultura e da religião, mais do que qualquer coisa, “8 em Istambul” deixa claro que, “Em casa de ferreiro o espeto é de pau”, mas, ao contrário de uma sina, o reconhecimento disso pode ser o primeiro passo para a libertação.

Cuidado, você pode aprender algo com essa série!

Confira, abaixo, o trailer

***
Quem gostou de “8 em Istambul” também poderá gostar de Nada Ortodoxa

Imagens: reprodução/divulgação.

Josie Conti

JOSIE CONTI é psicóloga com enfoque em psicoterapia online, idealizadora, administradora e responsável editorial do site CONTI outra e de suas redes sociais. Sua empresa ainda faz a gestão de sites como A Soma de Todos os Afetos e Psicologias do Brasil. Contato para Atendimento Psicoterápico Online com Josie Conti pelo WhatsApp: (55) 19 9 9950 6332

Recent Posts

SBT explica por que episódio de Chaves ficou quase 50 anos inédito na TV

Episódio especial de Natal de “Chaves” nunca tinha passado na TV aberta (até ontem!) —…

3 horas ago

Saiba como o SBT se saiu no Ibope após trocar Zezé di Camargo por episódio inédito de Chaves

⚠️ Após polêmica, SBT trocou Zezé por Chaves de última hora — e o Ibope…

3 horas ago

Arcebispo do Rio de Janeiro se manifesta pela 1ª vez após silenciar Padre Júlio Lancellotti

Você não vai acreditar na justificativa que Dom Odilo deu sobre o caso 😒

3 horas ago

AGORA! Zezé DiCamargo se recusa a se retratar, e filhas de Silvio Santos entram com processo contra o cantor

Você não vai acreditar no montante que o cantor pode perder na Justiça 😱

3 dias ago

SBT acaba de tomar decisão bombástica sobre o Especial de Natal de Zezé Di Camargo

Especial de Natal de Zezé Di Camargo vira dor de cabeça e SBT toma decisão…

3 dias ago