Fabíola Simões

Às vezes a gente só quer um abraço que diga que vai ficar tudo bem

Me lembro de um recorte colado na minha agenda dos tempos de adolescente em que um casal se abraçava num fim de tarde. Era um abraço apertado, ela tinha os cabelos queimados de sol e os braços dele envolviam a cintura dela com força e proteção. Eu abria a minha agenda naquela página e me perguntava quando seria envolvida assim.

Muitas vezes um abraço significa mais que um beijo. Pois um abraço fala, acolhe, protege, acalma, consola e traduz afeição. Pode expressar “estamos juntos nessa”, “te quero muito bem” ou “ninguém é forte sozinho”. Consegue transmitir empatia, cuidado, segurança e atração. Acolhe reencontros, saudades, aflições e desejos. Celebra alegrias, vitórias, realizações e recomeços. Traduz compaixão, “vamos dividir essa tristeza”, “vem cá me dá sua dor”.

No silêncio de um abraço muita coisa é dita. Pois abraço significa reconciliação, perdão, exoneração das mágoas e aflições. No silêncio de um abraço abafo meu pranto e extravaso minha alegria. Dissolvo minha dor e restauro meu equilíbrio. Um abraço aquece, enche de esperança, transforma pedra em coração.

Nos momentos em que pareço mais imperfeita é justamente quando mais preciso de um abraço. Pois abraço recompõe porcelanas lascadas e arremata fios puxados. Abraço constrói pontes invisíveis e decifra linhas tortas.

Às vezes a gente só quer um abraço que diga que vai ficar tudo bem, uma garantia de que não estamos sozinhos, um colo onde repousar a cabeça, uma atenção cuidadosa e um silêncio repleto de significado.

Oferecer nosso abraço a alguém é resgatá-lo do mundo enquanto acolhemos suas lutas, desistências, lembranças e confissões. É se importar, emanar energias boas, sanar dúvidas e dissipar medos. É adoçar um encontro, medicar um pranto, colorir um desencanto.

Abraço é calma, encontro de almas, artimanha perfeita para vencer qualquer dúvida ou saudade.

E finalmente tenho que concordar com Rubem Alves, que dizia: “Eu te abraço para abraçar o que me falta”. Pois abraço nos reconecta com aquilo que precisamos, com o que nos faz falta, com o que nos alivia. Abraço é melhor que conselho, que beijo, que recomendação. Abraço nos traz de volta, nos situa no mundo, nos dá chão. Abraço é a maior das conquistas, pois abraço dissipa o abandono e aquieta o coração…

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Imagem de capa: Bogdan Sonjachny/shutterstock

Fabíola Simões

Escritora mineira de hábitos simples, é colecionadora de diários, álbuns de fotografia e cartas escritas à mão. Tem memória seletiva, adora dedicatórias em livros, curte marchinhas de carnaval antigas e lamenta não ter tido chance de ir a um show de Renato Russo. Casada há dezessete anos e mãe de um menino que está crescendo rápido demais, Fabíola gosta de café sem açúcar, doce de leite com queijo e livros com frases que merecem ser sublinhadas. “Anos incríveis” está entre suas séries preferidas, e acredita que mais vale uma toalha de mesa repleta de manchas após uma noite feliz do que guardanapos imaculadamente alvejados guardados no fundo de uma gaveta.

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