Sobre homofóbicos, machões, racistas e outros tipos que não gostam de gente.

Imagem de capa: kudla, Shutterstock

Quando eu crescer, quando eu for mais que esse velho ranzinza de cara feia, esse operário aborrecido que mal consegue pagar o aluguel, esse amigo ingrato e distante de tanta gente amiga, ahh… eu bem me aplico a compreender o que passa na cabeça de um homofóbico, um machão, um xenófobo, um racista ou qualquer outra criatura que dedica a própria vida a incomodar a dos outros.

Você sabe como é difícil esse negócio de tratar das nossas próprias atribuições. Dá um trabalho danado. Toma tempo! Há sempre mais e mais o que fazer. Quem se ocupa com empenho de seu dia depois do outro pratica a arte do malabarismo, corre de um lado a outro equilibrando pratos em varetas delicadas, cospe fogo, anda na corda bamba, salta no trapézio sem rede. Cuidar da própria vida é mão de obra espinhosa, serviço pesado. E ainda tem gente que consegue aporrinhar e perseguir a vida alheia.

É muito esforço. Os semideuses que dão conta de tal proeza devem se importar de verdade com aqueles a quem perseguem. Se isso não é amor velado e mal resolvido, é um ódio violento e descarado. Aqui comigo, silencioso para não incomodar, eu tenho a impressão de que é pura raiva incontrolável, malquerença profunda, incontido recalque. Nada mais que isso.

Misóginos convictos de seu ódio irrestrito por mulheres, machões orgulhosos de sua masculinidade babando raiva dos homossexuais, racistas, fascistas, xenófobos e outros espécimes convencidos de sua superioridade em relação ao outro têm no mínimo um aspecto medonho em comum: eles são gente que não gosta de gente.

O canalha que espanca a mulher é pior do que um mero covarde e um criminoso rasteiro. É alguém que não gosta de gente. Quem persegue os que têm uma orientação sexual diversa da sua não é só homofóbico. É alguém que não gosta de gente. Quem deprecia, humilha e espezinha um ser humano pela cor de sua pele, o lugar onde nasceu ou o conteúdo de sua conta bancária é mais que um habitante do limbo moral onde vegetam os canalhas. É alguém que não gosta de gente.

Quem se presta a esse tipo de coisa devia ser estudado. De suas glândulas há de brotar substâncias que a ciência bem podia usar na produção de antídotos para tanto veneno, como das cobras saem os soros antiofídicos. É um mundo livre, Meu Deus! Cercear o voo dos outros, limitar seus movimentos como quem corta as asas de uma calopsita só pode ser coisa de quem não suporta o fato de que o mundo é habitado por seres diferentes, diversos, distintos, livres para ser o que são.

Um dia eu me aplico a compreender quem não tolera a liberdade do outro. Hoje não dá. Eu tenho mais o que fazer e o aluguel vai vencer de novo. Hoje não. Mas um dia. Um dia.

André J. Gomes

Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.

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