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Segurança íntima

Que medo que dá, e esta emoção nos toma conta a cada momento. Já nem sabemos mais medo de quê, porque tudo parece ameaçador nesses tempos incertos. O certo é que ele espreita: podemos cair, bater, ser atacados, roubados, adoecer. Algo pode nos fazer mal, ou a alguém que amamos. Podemos perder as coisas que conquistamos, a caro custo. O medo é uma fera indomada para a qual não ousamos olhar de frente. Sentir-se totalmente em segurança é uma utopia. Não temos saída. Do nascimento à morte, da manhã à noite, os riscos são constantes e tudo é um grande ciclo de apostas.

Mergulhados nas incertezas do mundo e na nossa condição de impotência diante desta emoção que tanto nos perturba, vamos buscando as rotas de fuga, que podem melhorar ou piorar ainda mais nossa condição frágil de seres humanos. Afinal, fugir é muito mais fácil do que encarar o monstro de frente ou, eventualmente, convidá-lo para um amistoso chá. Antes do encontro com nossos horrores internos, já começamos a imaginar o massacre, então corremos sem pensar, sem rumo, para longe de nós mesmos.

A fuga constante de algo que sequer conseguimos desenhar no pensamento, também nos desgasta e fere. A busca de algum alívio acaba custando muito caro a nós e aos nossos. Não há saída. Viver exige coragem. Rezamos, pedimos pela sorte, barganhamos os prazeres da vida, negociamos as saídas que tragam algum fôlego para seguir. Mas o cansaço chega, o temor é destilado e toma conta das emoções, transformando pensamentos em doenças. Precisamos, enfim, buscar alguma proteção de nós mesmos. Porque atacamos o próprio coração, tão precioso, na busca desesperada de alívio.

Ansiosos, deprimidos, ou com alguma das dezenas de doenças mentais fabricadas no mundo contemporâneo, buscamos soluções junto às autoridades que, sobrecarregadas, falham vez após outra. A Segurança Pública torna-se uma piada neste caos, afinal, claramente não funciona. Além de inseguros, estamos revoltados com os outros, focados no que poderia vir de fora para nos salvar. E não vem.

Pois bem, e se pudéssemos, enfim, buscar nas entranhas de nossas emoções, este encontro corajoso com nossos monstros? E se talvez, numa tentativa desesperada, mas corajosa, buscássemos uma negociação com esses bichos terríveis do pensamento? Seria possível então, no embate, perceber que o tamanho do medo é bem maior que os riscos efetivos. Acredite, o monstro pode diminuir diante de um olhar firme e lúcido dos fatos.

E que tal tentar obter a segurança diante da certeza de que nada pode ser controlado? Afinal, as pessoas são incontroláveis, o mundo gira o tempo todo e o tempo é veloz. Pairando em meio a tudo isso, não há certezas. Mas pode haver paz, na medida em que o medo torna-se um aliado. E no fim,  vamos descobrir que tudo não passa de um sonho. A vida é plástica, tudo passa enfim, e sob os auspícios e olhares brilhantes das estrelas, prosseguimos na aventura sem fim da consciência. Sejamos piedosos então, em nome da frágil condição comum a todos os seres.

Alessandra Cavalheiro

Jornalista, 44 anos.Gaúcha de Santa Maria/RS. Moro em Florianópolis e sou editora de um caderno mensal de decoração e arquitetura. Tenho buscado inspirações para escrever sobre as possibilidades de paz, em tempos de corações corrompidos...

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