Pamela Camocardi

Que Camões era romântico assumido todos sabiam. Que pregava um amor realista, poucos.

As discussões a cerca de Camões são inúmeras, visto que o poeta possui obras complexas e de difícil entendimento. Porém, entre extremo romantismo, idealização da pessoa amada e frustração diante da rejeição, Camões defendia algo que poucos estudiosos perceberam: reciprocidade de amores realistas.

Diferente do que se pensa, Camões não era um romântico iludido, nem pregava um amor platônico inatingível. Pelo contrário, para o autor o amor deveria ser tão intenso quanto recíproco. Como o próprio poeta dizia “coisas impossíveis, é melhor esquecê-las que desejá-las”.

A história nunca teve grandes informações da vida do poeta e, as poucas que possuía, eram especulações. Resumindo: conhecemos Camões por seus versos e, com exatidão, somente por eles.

Camões está mais perto da sua realidade do que você imagina. Há até um famoso questionamento que afirma: “o que seria da Língua Portuguesa sem Camões?”. Ele é o autor de “Os Lusíadas” (aquele poema épico de 8.816 versos que você foi obrigado a ler no Ensino Médio e que, provavelmente, odiou) e o grande inspirador da música de Renato Russo, Monte Castelo, que você canta alto, como se não houvesse amanhã.

O amor de Camões é intenso, extremo, forte, mas coerente. Se, por um lado o poeta enfatiza que, para viver um grande amor, é preciso intensidade; por outro, utiliza-se de antíteses para demonstrar a fragilidade humana perante o amor.

Para Camões o amor é “um fogo que arde sem se ver”, e, por isso mesmo, deve ser pensado antes de ser sentido. Segundo o próprio poeta, o amor “é ferida que dói, e não se sente. É um contentamento descontente. É dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer. É um andar solitário entre a gente. É nunca contentar-se e contente. É um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade. É servir a quem vence; o vencedor. É ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor. Nos corações humanos amizade. Se tão contrário a si é o mesmo amor?”.

Nota-se que, enquanto para muitos autores o amor é visto como cura para os cansados, para Camões a antítese é encarada como uma faca de dois gumes: de um lado, remédio para as almas sãs, do outro, veneno para as doentes. Cabendo a, cada um, escolher o lado que prefere.

Camões entendia que, por mais que o amor doesse, não poderia ser dividido “o amor é um só, não pode ser partido” e a continuidade da vida necessária, visto que somos passíveis de mudança e que, sofrer era uma opção e não uma condição: “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança; todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades.”

A leitura das obras não é fácil, a linguagem não é agradável e as obras são extensas. Mas, se eu pudesse lhe dar um conselho, seria: leia! Arrisque-se, permita-se, cresça intelectualmente. Camões é tão complexo, quanto encantador.

Pamela Camocardi

A literatura vista por vários ângulos e apresentada de forma bem diferente.

Recent Posts

SBT explica por que episódio de Chaves ficou quase 50 anos inédito na TV

Episódio especial de Natal de “Chaves” nunca tinha passado na TV aberta (até ontem!) —…

3 horas ago

Saiba como o SBT se saiu no Ibope após trocar Zezé di Camargo por episódio inédito de Chaves

⚠️ Após polêmica, SBT trocou Zezé por Chaves de última hora — e o Ibope…

3 horas ago

Arcebispo do Rio de Janeiro se manifesta pela 1ª vez após silenciar Padre Júlio Lancellotti

Você não vai acreditar na justificativa que Dom Odilo deu sobre o caso 😒

4 horas ago

AGORA! Zezé DiCamargo se recusa a se retratar, e filhas de Silvio Santos entram com processo contra o cantor

Você não vai acreditar no montante que o cantor pode perder na Justiça 😱

3 dias ago

SBT acaba de tomar decisão bombástica sobre o Especial de Natal de Zezé Di Camargo

Especial de Natal de Zezé Di Camargo vira dor de cabeça e SBT toma decisão…

3 dias ago