Quando os pais atrapalham os filhos

Imagem: Breslavtsev Oleg/shutterstock

A menina tem 13 anos e o menino 15. Estão sempre juntos, na companhia dos amigos, dos pais, dos responsáveis, do grupo de jovens da igreja.

Mal se tocam, nem pegam na mão, mas todo mundo sabe que ali se formou uma duplinha inseparável. Riem ao mesmo tempo. Ficam vermelhos ao mesmo tempo. Acham graça de tudo. Dançam sem se tocar.

Não se importam de andar sempre em grupos de amigos ou de parentes. No meio da festa, de repente, ambos se voltam para o celular, para uma plataforma digital qualquer, e silenciam. Pare o mundo que eles estão jogando. A prioridade é o jogo. Jogos de ação, tiros, fugas, explosões cinematográficas. Abstraídos da realidade voltam a ser crianças ganhando, perdendo, esboçando reações de alegria, de raiva, de medo ,buscando resultados e placares que só a cada um deles interessa.

São namorados ou são amigos? São os dois.
São jovens ou são crianças? São os dois.
É amor ou é paquera? É amor e é paquera.
Uma fase que veio para NÃO ficar. Uma experiência sazonal, dessas que não deixam marcas.

Um dia, acaba: deixam de se ver. No outro, mal se cumprimentam. E mais um outro, são capazes de jurar que nem se conhecem. Trocam de igreja, são transferidos de colégio, mudam de cidade. Acaba.

Poderia ser diferente? Poderia!

Poderia ser o principio de um namoro adulto, de um noivado adulto, de um casamento adulto, que fosse eterno enquanto durasse, ou até para sempre, desde que a relação ganhasse estabilidade e contornos de uma realidade estável e planejada.

Aos poucos e sempre, um passo de cada vez. E por que não ganha? Por falta de interesses comuns? Nem sempre!

Muitas vezes o que falta é o crédito dos adultos. Sem o crédito emprestado, o jovem casal recém formado não tem estrutura emocional para vencer as fases da vida.

Quando se conheceram, a menina acreditava no menino, e o menino acreditava na menina. Ambos acreditavam em si e nem sabiam que estavam em construção. Ele se viam prontos, porque se correspondiam, porque estavam ombreados, no mesmo estágio.

Ela o via como sempre viu: um menino divertido. Não percebia as pernas finas, a voz que ora falava grosso, ora falava fino, o rosto imberbe, o corpo desengonçado.

O menino não reparava que ela era a gordinha da sala, que tinha espinhas no rosto, e uma barriguinha que se insinuava sob a camiseta baby look.

Ele olhava para ela e a via como amenina mais legal da terra.Ela olhava para ele e o via como um porto seguro, um cara que a defenderia em qualquer circunstância, e se fosse preciso, partiria para a porrada.

Até que chega a irmã mais velha, o irmão mais velho, a mãe, a prima, o primo, ou qualquer pessoa da família, e aponta o primeiro defeito. Depois outro, e outro, e mais outro, quase todos relativos à aparência física, ou à forma de se portar. A sabotagem começa.

Nessa idade, os relacionamentos se desfazem por nada. Por um tênis. Por uma botina. Por um jeito de dançar. Por um jeito de sentar sem jeito. Por uma postura relaxada. Por comer com muita fome. Por não comer. Por falar que tem preguiça de estudar. Por não falar nada.

Os pais não têm paciência para cozinhar em banho-maria uma nora ou um genro em construção. As famílias não percebem que todo edifício começa com um alicerce e se constrói tijolinho a tijolinho. Querem ver o edifício pronto da noite para o dia. E desse jeito, sob uma montanha de censuras veladas ou declaradas, um jovem de boa família, e uma jovem de boa família, se perdem por culpa das respectivas famílias: o envolvimento acaba.

Anos depois aquele jovem desabrochou, atingiu a maturidade, virou um profissional competente, ganhou músculos e nervos de aço, aprendeu a sentar, a falar, a conduzir-se na vida. Está noivo, vai se casar. A noiva lembra um pouco o amor da sua adolescência. Que ele nunca mais viu.

Aquela jovem ganhou altura, emagreceu, as espinhas sumiram, o corpo ganhou contornos de feminilidade, o trabalho fez dela uma mulher segura que não precisa de um protetor, mas oh mundo cruel, ela ainda precisa de um homem para chamar de seu, e não consegue vislumbrar nenhum no seu horizonte de executiva.

Os homens sumiram. Os que ficaram, querem só FICAR.

Sem querer parecer dramática, mas já colocando na vitrola o Luciano Paravarotti cantando O Sole Mio – e você que me aguente -, quero encerrar dizendo isto:

Pais não atrapalhem a vida dos seus filhos .Deixem que eles decidam por si o que lhes for melhor, no momento da decisão.

Se o amor acabar no meio do caminho, eles saberão. Se o amor se fortalecer no meio do caminho, eles também saberão. Mas se vocês atrapalharem, no início do caminho, eles nunca saberão.

Ana Maria Ribas Bernardelli

Estudante de humanas-idades, cidadã do céu e da terra, escritora por compulsão, leitora de letras, de pontos, de reticências, e de linhas, interventora de paisagens, solitária por opção, gregária por necessidade, gosto de músicas, filmes em que só as pessoas acontecem, documentários, biografias, e todas as obras de Clarice Lispector e de Watchman Nee. Vivo a espiritualidade, sem religião. Não tenho afinidades com rituais e com scripts que se repetem. Amo a liberdade, os animais, as plantas, os velhos, as crianças, e todos os seres que se sentem estranhos no ninho. Fujo de superficialidaes, e não tolero nenhum tipo de injustiça, crueldade, ou tirania. Adoro a Deus e a ele quero servir. Escrevo para organizar a vida, para aguentar o tranco, e em cada texto meu, você me encontrará. Espero que eu também lhe encontre no meu email, no meu site, e nos meus endereços nas redes sociais. Feliz por estar com vocês!

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