Quando meu terapeuta riu de mim

Aos 22 anos senti a necessidade de fazer terapia para, de alguma forma, poder acalmar um conjunto de angustias e sofrimentos que vinha sentindo, principalmente, devido a minha escolha profissional: Engenharia Química.

Recordo até hoje o sofrimento que eu sentia ao me dedicar tanto aos estudos e não conseguir ver esse esforço refletido nas minhas notas, como eu desejava e achava fundamental. No geral, sentia que precisava me esforçar mais do que meus colegas mais próximos para atingir notas “passáveis”. A dedicação intensa para ter um retorno (que eu achava)medíocre estava me intoxicando. Não conseguia viver bem e muito menos sentir prazer no que eu estava fazendo.

Um belo dia, em plena seção de terapia, após inúmeros lamentos, comecei a soluçar. Em poucos segundos, os soluços se transformaram em pranto, balbuciei: “sinto-me um fracasso”. E foi nesse momento que recebi como resposta uma sonora risada. Sim, meu terapeuta estava com um sorriso estampado, rindo. Fiquei completamente estática, surpresa, chocada e, depois, irada com essa atitude. Eu lá, sofrendo, e a pessoa que deveria me ajudar estava rindo de mim?!

Os anos se passaram, muita coisa mudou. A maturidade e a vivência me permitiram enxergar a vida com mais clareza, com olhos mais serenos, menos exigentes e críticos.No entanto, isso não impede de, uma vez ou outra, eu ainda ter a sensação de estar em busca de um sucesso inatingível. E que sucesso é esse?

Independente de onde você mora, do meio em que você está inserido (seja o acadêmico, o empresarial, o seu próprio lar, etc.), independente da posição que você ocupa (professor, aluno, chefe, mãe, pai, etc.), os critérios de sucesso estão sempre subentendidos e são transmitidos a você. Dessa forma, construímos em nossas cabeças uma imagem do sucesso, e transformamos essa imagem, romantizada e cheia de estereótipos, em nosso maior objetivo.

Desejamos a felicidade plena, a bonança financeira, a família unida e sem conflitos, o corpo sarado, viver viajando, e assim por diante.Somos diariamente bombardeados por comparações, comentários, informações que nos transmitem direta ou indiretamente o que precisamos atingir para ter sucesso. E, desejamos atingi-lo, afinal, quem não quer ter o status de uma pessoa bem sucedida. Engana-se quem diz que não se importa com o status. De uma forma ou de outra todos nós desejamos o reconhecimento de sermos bem sucedidos.

Buscar o sucesso está longe de ser algo ruim. Ao contrário, de alguma forma, isso nos ajuda a querer sempre evoluir. O problema está em usarmos parâmetros genéricos para a definição de sucesso. O problema está em rotularmos como deve ser o sucesso para cada um de nós, usando parâmetros iguais para todos.

Algumas semanas atrás, tomando meu café e pensando em como nossos projetos não estavam avançando na velocidade necessária e mais um monte de besteiras, algo me ocorreu: “caramba e se finalmente estou vivendo o meu sucesso e não estou percebendo?”

Vejam bem, há mais de um ano, eu e o Bruno decidimos mudar de vida, mudar de país e reconstruir nossas vidas profissionais. Sim, tudo em um movimento único, em busca de uma vida mais plena, em busca de mais autonomia em nosso cotidiano. Foi uma grande mudança que demandou muita energia, coragem e tem demandado muita perseverança. Queríamos, de forma bastante sucinta, ser mais donos de nossas vidas. Queríamos estar mais perto de nosso filho. Queríamos poder dedicar nosso conhecimento em projetos nossos e não de outros. Queríamos poder ter flexibilidade de horário. Queríamos poder sentir-nos vivendo e não “sendo vividos”. Hummmm, calma aí, tudo isso nós conseguimos! Nossa empreitada já deu certo!!! Por que então essa sensação de que preciso ainda fazer mais para ter o bendito sucesso? Por que ainda assim não consigo me sentir bem sucedida?

E esse é o grande mal de usarmos parâmetros genéricos, eles nos tornam prisioneiros de uma idealização, de um sucesso genérico, avaliado por parâmetros gerais pré-definidos. Esquecemos, ou simplesmente não enxergamos todas as demais conquistas. Sempre esperamos pelo que está a um passo mais adiante! Buscamos o sucesso na visão de terceiros. Nunca, realmente, com nossos próprios olhos e valores. Podemos estar bem empregados, mas ainda nos falta, a casa própria. Podemos ter achado o amor de nossa vida, mas ainda falta ter filhos. Podemos ter uma boa qualidade de vida, mas ainda falta termos uma conta bancária de dar inveja. E você poderá ter tudo isso, mas lhe faltará alguma outra coisa sempre.

Mas, e como mudar isso em sua vida? Ou melhor, como passar a ter mais sucesso? Escolha os parâmetros corretos para você. Parece simples, não é?! Os parâmetros que você usa para determinar o seu sucesso precisam ser realmente seus. A escolha desses parâmetros é que poderá lhe colocar na situação de ficar buscando algo eternamente e sentindo-se um fracasso, ou valorizando e vivenciando seus inúmeros sucessos de vida.

Quando você define os seus parâmetros, o sucesso passa a ser algo palpável e não inatingível, pois você adapta a sua realidade, aos seus sentimentos, a sua história e a sua percepção da vida. Seja você quem define o que você quer construir na vida e como você deseja fazê-lo.

Voltando à risada de meu terapeuta. Depois de alguns segundos desconcertantes, ele me olhou seriamente e disse: “deixe-me ver se eu entendi bem, você faz Engenharia Química, um curso bastante difícil, em uma universidade federal, fala quatro línguas, trabalha e estuda, e se acha um fracasso porque não tira notas altas?! É isso mesmo?”

Sim, era exatamente isso. Eu estava apenas medindo meu sucesso de acordo com notas, pois isso era o que o “sistema” usava para dizer o quão bom eu era. A risada dele, hoje, faz total sentido.

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Engenheira, mãe e lutadora inveterada por uma vida mais plena e com mais sentido. Co-criadora do Vida Borbulhante. Largou tudo, deu um salto no vazio e foi morar no Uruguai com o Bruno e o Martin. Ela busca incentivar as pessoas a viverem uma vida com mais propósito.