Susiane Canal

Precisamos abraçar nossas sombras

Imagem de capa: rudall30/shutterstock

Ainda que sem perceber, vivemos procurando subterfúgios para não encarar nosso lado sombrio. Podemos ignorá-lo ou disfarçá-lo, mas, no fundo, ainda que inconscientemente, sabemos que ele existe para todo mundo e que precisa ser aceito e trabalhado.

Podemos encher nossos dias com as mais variadas atividades, encher nossas mentes com os mais variados devaneios, e encher nosso coração com as mais conflitantes emoções. Sim, ficaremos ocupados. Muito ocupados. Mas só iremos sair do nosso caos particular, ficar realmente bem, evoluir, quando pararmos para encarar as nossas sombras.

E, realmente, é muito perturbador reconhecer que pode haver muitas inferioridades ainda em nosso ser. Que somos mais negativos do que deveríamos. Que temos invejas. Que, às vezes, somos maldosos. Que sentimos raiva por besteiras. Que, muitas vezes, não nos esforçamos nem um pouco para ajudar alguém. Que temos preguiça para coisas importantes.

Que somos, vez ou outra, mesquinhos. Que o nosso apego está exacerbado. Que o materialismo anda meio desmedido. Que o nosso perfeccionismo não faz sentido. Que não estamos olhando para as coisas com a clareza com que poderíamos. Que, de vez em quando, preferimos ficar mesmo no buraco. Que não estamos nos esforçando para nos alinhar com o propósito da nossa alma…

Reconhecer o nosso lado sombrio é deveras trabalhoso. Exige, especialmente, que saiamos por alguns momentos dessa loucura em que vivemos, interna e externamente, para nos ouvir. Silenciar, abaixar as armaduras, desarmar as defesas, deixar ser, simplesmente.

Aceitar as nossas sombras, por outro lado, é um exercício constante. Pois elas sempre estarão a nossa espreita, em maior ou menor grau. Precisamos aprender a viver bem com elas, a entender que fazem parte de nós e que precisam ser compreendidas para, aos poucos, serem superadas.

Exige um mergulho profundo no nosso ser. Algo que apenas nós podemos fazer por nós mesmos. Requer maturidade, controle emocional e coragem. Notadamente, coragem.

Coragem para reconhecer que talvez não sejamos tudo aquilo que achávamos ser e/ou tudo o que os outros acham que somos. Coragem para dissolver algumas “verdades”. Coragem para se sentir confortável com a dor que nos habita. Coragem para assumir nossas fraquezas e imperfeições. Coragem para iniciar um processo de mudança. Coragem para não desistir. Coragem para aceitar os tropeços que surgirão no caminho. Coragem para aceitar as curas que, invariavelmente, virão.

Enfim, coragem para passar a viver uma vida muito mais consciente, muito mais proveitosa e muito mais feliz.

Susiane Canal

“Servidora Pública da área jurídica, porém estudante das questões da alma. Inquieta e sonhadora por natureza, acha a zona de conforto nada confortável. Ao perder-se nas palavras, busca encontrar um sentido para sua existência...”

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