A prece é amiga da imperfeição. Oremos, pois.

Imagem de capa: palidachan/shutterstock

Hoje eu dei de rezar por nós. Por você, por mim e por todo mundo. É que de tão convencidos das nossas qualidades, andamos esquecidos de nossa imperfeição. Feito mulas cegas de desespero e aflição, estamos nos pisoteando uns aos outros sem sequer nos darmos conta. Nesse caso, só rezando.

Eu rezo. Quem sabe a vida nos lembre de que é preciso parar e respirar, olhar o céu, ajustar o foco e começar de novo. Que tenhamos cuidado e apreço conosco e com o outro. Que o amor seja mais, muito mais que uma palavra bela. Que faça de nós amantes da gentileza e dos gestos francos, defensores corajosos do trabalho honesto, operários do respeito e construtores da beleza que nem sempre os olhos veem.

E que tão logo façamos a nossa parte, o universo nos responda com sol e chuva para a festa das lavouras, e as paixões avassaladoras apareçam de manhã nas sacolas dos carteiros, estendidas em frente às portas como cachorros tomando sol. Que a esperança encha as caixas de entrada dos e-mails e a saudade dos velhos amores extintos renasça em novos encontros, com novas gentes, em outras possibilidades.

Que instantes de absoluto desprendimento nos joguem na cara o quanto são ridículos os nossos interesses rasteiros. Que notemos num susto que o mundo vai carente de afeto e nós precisamos não de movas diligências para que os ricos continuem ricos e os pobres se mantenham pobres, mas de pequenas desobediências que desencadeiem imensas loucuras. E que estourem em todo canto, como pipocas, milhares de milagres capazes de enormes mudanças.

Que em cada casa do planeta brote uma nascente de água poderosa capaz de curar toda e qualquer doença. E que a saúde não seja mais um mercado cruel, liderado por gente vil decidindo as mazelas que nos acometerão, ocupada sobretudo com quanto dinheiro há de ganhar com isso.

Que os sete bilhões de seres humanos e outros inúmeros espécimes vivos sobre a Terra acordem num dia qualquer e descubram que o inimigo se tornou amigo. Que o credor decidiu facilitar a dívida e todo malfeitor desistiu de fazer mal ao outro, em qualquer instância, em toda escala.

Que o mundo seja invadido por bons sentimentos, pela vontade de ajudar, a liberdade de ser só ou viver em família, ser solteiro ou ser casado, ser amante ou ser amado, ser homem ou ser mulher.

Que amanhã de manhã saiamos às ruas e encontremos guardas de trânsito orientando os carros entre passos de dança cheios de graça. Que todas as pessoas ganhem o direito sublime de se comunicar cantando e a vida se transforme num antigo musical de cinema. E que em cada família se contem e cantem histórias sobre a criação do mundo, os gestos simples dos grandes seres e a grandeza das pequenas coisas.

Que os velhinhos e as crianças, habitantes extremos das duas pontas da vida, sejam verdadeiramente ouvidos e celebrados por aqueles que estão no meio do caminho.

Que todo ser vivo seja tomado de uma vontade incontrolável de trabalhar e construir, criar e dividir. Que floresça em cada um de nós um desejo de ajudar e a gratidão a quem nos ajude.

E que as ruas ganhem novas árvores, muitas árvores espalhadas por lá e cá, com pencas de amores novos do tamanho de jacas nascendo de seus galhos.

Que Deus esteja entre nós no sorriso de nossos filhos, na presença das pessoas queridas, na chegada e na partida, no calor do sol e no barulhinho da chuva, no vento que assovia, na dor que chegue e passe, na lua que vigia, no dia que nasce, na planta que cresce, na alegria que vem sem aviso, na prece que renova e agradece, no amor da gente, no mundo em paz e na vida que em todo canto acontece, a toda hora, por todos nós e para sempre.

Hoje eu dei de rezar por você, por mim e por todo mundo. É que eu tenho a impressão de que nós andamos precisados.

Que a prece então seja amiga de nossa imperfeição e nos ajude a seguir em frente, com os olhos atentos em nossos erros e os braços abertos para o perdão. Amém!

André J. Gomes

Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.

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