A vida que vivemos é a única que temos e é preciso se agarrar a ela de todas as formas, já que não se colhe rosas sem ter a mão ferida por alguns espinhos.
O mundo, a vida, muitas vezes nos entristece, nos machuca, nos apequena. Somos apenas seres finitos, precários, limitados, tentando viver e compreender um universo enorme e que, na maior parte do tempo, parece não estar nem um pouco preocupado com nossas dores, angústias, desejos, sonhos, frustrações. Como, então, amar o mundo? Como amar as pessoas apesar dos seus erros, dos seus defeitos, dos seus pecados?
Evidentemente, amar o mundo não é uma tarefa fácil. No entanto, há outra forma de dispor do espaço em que vivemos e ter uma mente minimamente saudável sem ter qualquer apreço por aquilo que compõe a nossa casa?
Se não formos capazes de amar o mundo como ele é, jamais o amaremos. Para tanto, devemos buscar compreender que por mais que nos esforcemos por qualquer coisa ou pessoa, nunca conseguiremos fazer com que a vida seja da forma que queremos e desejamos.
O universo, em seu sentido amplo, é incontrolável, de modo que ainda que sejamos engajados em determinadas coisas, estas sempre sairão do trilho em algum momento da viagem. Diante disso, o que fazer: se desesperar ou tentar enxergar a problemática em perspectiva, a fim de que ela possa ter um caráter didático na linha maior da nossa existência?
Não quero dizer, todavia, que devemos nos acomodar e nos resignar diante da realidade, aceitando-a como algo natural e imutável. Mas, sempre haverá limites para as nossas intenções e esforços, desde coisas “menores” do nosso cotidiano privado, até coisas “maiores” envolvendo a sociedade. É claro que podemos ajudar a mudar a realidade, a transformá-la, a transvê-la, como diria o poeta. Entretanto, é preciso também saber reconhecer que, em função da nossa própria condição humana, existem coisas que excedem à nossa capacidade de ação.
Amar o mundo como ele é, antes de qualquer coisa, é saber reconhecer os nossos limites e, por isso, saber aplicar o perdão a nós mesmos, já que, não raras vezes, acabamos nos punindo por coisas sobre as quais não possuíamos pleno domínio. É como diz o ditado: o que não tem remédio, remediado está. Logo, se autoflagelar por algo que não tínhamos o que fazer é como querer que a gota d’água retorne após cair do céu. Ela pode até retornar, mas não da mesma forma que caiu, afinal, a vida é movimento e nós também estamos inseridos nela, sendo agentes e pacientes ao mesmo tempo.
Há de se buscar sabedoria para melhor entender e às vezes aceitar o que a vida – o mundo, o universo, a sociedade, as pessoas, nossas famílias, nossos amigos, os conhecidos, os desconhecidos –, enfim, tudo aquilo que vive e compartilha a existência conosco, e talvez até aquilo que não compartilha, faz conosco e, ainda assim, amá-la na medida em que seja possível amá-la, porque a vida que vivemos é a única que temos e é preciso se agarrar a ela de todas as formas, já que não se colhe rosas sem ter a mão ferida por alguns espinhos.
Imagem de capa: Irina Alexandrovna/shutterstock
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