“Perdoem-me os insensíveis. Eu SINTO muito.”

A pequena frase de efeito que foi usada como título do texto foi pensada em um dia qualquer há mais de dois anos; enquanto dirigia de volta de um dos meus empregos, após um dia de trabalho rodeada por questões políticas, frias e desinteressantes. Ela foi colocada na internet e imediatamente se tornou viral mostrando que as pessoas se identificaram com esse momento em que frente a um ambiente hostil, os próprios sentimentos precisam ser valorizados.

Sou uma pessoa que precisa desesperadamente de um tempo diário só para si. É como se, após uma conversa com uma pessoa de fora, um atendimento de trabalho, passar muito tempo na rua resolvendo algo ou até mesmo passeando, toda a minha energia fosse exaurida. Aí, sinto a necessidade de um ajuste, uma dose homeopática de silêncio, uma leitura poética daquelas que são brisa dentro da gente, um filme para ver no aconchego do sofá ao lado do cachorro, alguma coisa dessas delícias que permitem que entremos em contato com aquela parte mais gostosa que se esconde dentro da gente e que sempre precisa ser resgatada.

A não interação com outras pessoas, nesses momentos, é  um recarregar de baterias, uma reorganização de pensamentos e sentimentos que vão sendo acomodados lá nas gavetinhas da memória e do existir. Aqui, dentro de mim, eles precisam ser bem dobrados, acariciados, revistos, perfumados e, só então, gentilmente colocados no lugar onde permanecerão até serem novamente requisitados.

Hoje, para esse jeito de ser de quem precisa de mais tempo consigo mesmo do que com o outro, dá-se o nome de “introspecção”.

Engana-se, porém, quem pensa que uma pessoa com características introspectivas não gosta de gente. Essa pessoa gosta sim, e gosta muito; mas gosta no seu tempo e com uma intensidade afetiva que precisa de uma coisa de cada vez. Algo como: para aquele que eu amo, toda a atenção enquanto estivermos juntos.

O excesso adoece. Lembro-me, por exemplo, de quando era mais nova e ia com os amigos para a balada. Na época, não beber não era uma opção. Naquele tempo via a questão como coisa da idade; porém, depois entendi que era um entorpecimento dos sentidos, uma maneira de amortecer as sensações, um “drogar-se” para poder se divertir naquele ambiente cheio de barulho e estímulos que eu ainda não sabia, mas na verdade não gostava.

Quando finalmente entendi que era nos momentos de solidão que eu mais me sentia bem é que compreendi o sentido do que chamam de “Solitude”, que é uma solidão voluntária e prazerosa. Nos momentos de solitude, os tijolos do dia são acomodados e formam a casa confortável onde é possível morar.

Para um introspectivo a relação temporal é relativa. Um simples toque de telefone pode ser agressivo, pois dói!  A dor descrita, embora pareça fala simbólica e exagerada, é a melhor definição de como se sente alguém que se encontra em repouso e, de repente, recebe um forte estímulo. Realmente dói.

As medidas de tempo e sensibilidade são pessoais. A intensidade de suas reações é variada; e o que é a diversão de um, pode ser uma agressão para o outro.

Para quem tem necessidade, os momentos de solitude, então, são tidos como reencontro e paz num voltar-se para si, produzindo força motriz para o engenho do próprio ser.

É um espaço que precisa ser sentido e respeitado por si e pelos outros. É uma maneira de ser, entretanto, que pode afastar alguns e que pode fazer com que você se afaste de outros.  Mas, uma vez descoberto, também é o local de autoconhecimento que permite o reencontro diário com os locais e as pessoas que realmente importam, com aqueles que sabem que, na roda dos dias, você sempre virá melhor depois de um novo ciclo; com aqueles que sabem que, o sentir em sua vida, nunca será um lugar comum.

Perdoem-me os insensíveis. Eu SINTO muito.  Sejam bem-vindos os bons parceiros de jornada, aqueles que estão dispostos a caminhar junto, e que conhecem e entendem nossos limites.

E, para aqueles que estão realmente conosco nessa vida, todo amor do mundo.

Josie Conti

JOSIE CONTI é psicóloga com enfoque em psicoterapia online, idealizadora, administradora e responsável editorial do site CONTI outra e de suas redes sociais. Sua empresa ainda faz a gestão de sites como A Soma de Todos os Afetos e Psicologias do Brasil. Contato para Atendimento Psicoterápico Online com Josie Conti pelo WhatsApp: (55) 19 9 9950 6332

Recent Posts

Amor, interesse e jogo psicológico: o filme da Netflix que incomoda sem pedir licença — e acerta onde dói

Parece comédia romântica, mas este filme da Netflix joga sujo com amor e dinheiro ❤️‍🔥💸

12 horas ago

Nova técnica criada no Brasil contra o câncer de mama, que congela tumor com nitrogênio líquido, atinge 100% de eficácia

🎗️ Tumor congelado a −140 °C: técnica contra câncer de mama tem 100% de eficácia…

12 horas ago

Após eliminar 75 kg, Thais Carla impressiona seguidores com transformação das curvas do corpo; veja antes x depois

Thais Carla mostra novo corpo após eliminar 75 kg e antes x depois deixa a…

12 horas ago

Olhe para seus dedos agora: o formato deles pode revelar traços da sua personalidade que você nunca percebeu

🖐️ Faça o teste: o formato dos seus dedos pode revelar traços da sua personalidade…

13 horas ago

SBT explica por que episódio de Chaves ficou quase 50 anos inédito na TV

Episódio especial de Natal de “Chaves” nunca tinha passado na TV aberta (até ontem!) —…

19 horas ago

Saiba como o SBT se saiu no Ibope após trocar Zezé di Camargo por episódio inédito de Chaves

⚠️ Após polêmica, SBT trocou Zezé por Chaves de última hora — e o Ibope…

19 horas ago