Por Patricia Tersi
Se minha escala de valores fosse a passarela de carnaval … a LIBERDADE ocuparia a posição de mestre sala. A porta bandeira seria o AMOR.
Digo isso pois assim como em um relacionamento, a evolução dos passos de um depende do desenrolar da evolução dos passos do outro. Para a dança acontecer, um precisa do outro. Não existe mestre sala sem porta bandeira. Não existe amor verdadeiro sem liberdade.
Pra chegar nesse modelo de amor eu precisei sentir a dor do desapego. E foi sentindo-a que me fortaleci.
Eu precisei abrir a porta da gaiola e deixar voar quem eu queria manter ao meu lado. E foi soltando-o que eu o tive. Eu precisei me simpatizar com a saudade (embora não consiga ainda chama-la de amiga, no máximo de colega … )
Espero evoluir nesse quesito, pois não quero fazer feio no sambódromo!
A verdade é que quanto mais sambo pela vida, mais eu percebo que respiro a liberdade.
Eu inspiro e expiro a liberdade.
Ela está no meu samba enredo. Mas minhas fantasias.
Pior que isso! Ao chegar em casa e despir-me das fantasias, vejo que ela está grudada em minha pele como purpurina depois da festa, quanto mais eu esfrego, mais grudada ela fica em mim.
Assim sendo, eu concedo-lhe meu companheiro, o cedro da liberdade. Quem sou eu pra lhe tolher disso ? Limitar seus sonhos? Nem pensar.
Não quero pra mim o pesar de mudar rotas alheias, já que o norte da minha bússola sempre apontará para a liberdade.
Isso é tão forte em mim que as vezes sou mal compreendida. Já me vi fugindo, literalmente saindo correndo de situações que colocaram em risco a minha liberdade, ou que pudessem aprisionar-me . Eu não quero ser prisioneira.
Mas exatamente nesse ponto é que nossa existência nos coloca num paradoxo !
Um paradoxo entre a liberdade e o amor.
Sim, existe um apenas um descompasso entre o mestre sala e a porta bandeira … Pois quem ama quer pra si.
E nesse impasse ninguém mais além de Camões conseguiu explicar-me a concepção do amor com liberdade. Disse ele: Amar é estar-se preso por vontade !
Depois de entender isso, hoje posso dizer: eu sou livre.
Sou livre ao sentir-me presa por vontade.
Sou livre dentro da minha fantasia de porta bandeira, sabendo que o meu mestre sala tambem dança leve e solto ao som do nosso samba enredo. O samba enredo do amor que não pede posse, mas que vive e revive a cada dia a liberdade de estar-se preso por vontade.”
Patricia Tersi: Dentista, amante de leitura e palavras, e que através delas se arrisca em vôos rasantes sobre os prazer de transformar em escrita o que já não cabe mais dentro do coração.
Imagem de capa: Photo-Art-Lortie/shutterstock
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