Espio pela janela e vejo casais enamorados. Vejo pássaros trocando afeto com suas companheiras. Vejo a moça de cabelo amarelado abraçando fortemente o moço de terno marrom. Vejo o cravo no rompante do vento curvar-se para a rosa vermelha.

Espio pela janela e vejo condições vantajosas do amor. Essa atmosfera que traz benefícios e é capaz de saciar qualquer gulodice sentimental, vale todas as sentenças da vida.

O amor vale o veredito da saudade. O velho cotidiano de robe amassado. O trajeto Amazonas- Porto Alegre. A safra de indecisões e atrapalhadas. O sorriso amanhecido nas areias da praia de Guarujá. Os três meses de salário atrasado. Qualquer carnaval com Chiclete com Banana. Os pecados confessados imprudentemente numa noite romântica.


O amor vale todos os minutos perdidos. O sol sumindo na montanha. Os pedidos de perdão. Amor vale a reza, a promessa, o esforço para que não falte.


Vale a ferida ainda aberta, esperando o afeto para ser curada. Vale os vendavais que desarrumam a veste bonita para a missa de domingo.


O amor vale até o que não está no contrato. Vale o esforço do braço para dar um abraço sem merecimento. A lágrima de contentamento, os deslizes de pura alegria. As bochechas vermelhas, envergonhadas. O suspiro do coração florescido. O formigamento nas mãos. O versinho vulgar, inventado para agradar.  A piscadinha discreta no jantar de família.


O amor vale as canções sertanejas. As dancinhas sensuais. Vale pelos porres no final da noite.
O amor vale qualquer segunda-feira nebulosa, terça desastrosa, quarta sem prosa, quinta sem rosas, sexta pavorosa e no sábado a gente acaba se encontrando no barzinho da esquina para tomar umas e outras e colocar o papo em dia sobre todas as outras ladainhas que valem o amor.


O amor vale pelos tombos, as enxurradas, as invernadas solitárias, à carta cheia de saudades. A espera no portão. A produção para o jantar íntimo.


O amor vale a exclusividade. A paciência de Jó, que geralmente não temos.


Pelo amor vale ser bobo. Errar e desculpar. Dar um jeito na vida. Arrumar um lugar nas gavetas para outros pares de roupas. Vale tocar, apertar, ouvir música juntos, aquecer os pés, fazer uma gentileza, repetir um carinho.


Vale pela taquicardia. Pela pronta-entrega. Pelas vontades saborosas. Vale pelas esperas. Pelo poema de uma linha.


Vale a doação, o carinho. O amor vale a ausência de qualquer teoria. Por si só o amor vale. Vale o passaporte para a vida. E vale porque amar é bonito.

Ita Portugal, escritora brasileira.

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