A necessidade de autoafirmação patológica anda por um caminho destrutivo. É aquele que não desenvolve as nossas potencialidades. Mas degenera a psique, podendo provocar distúrbios, ou seja, uma deficiência psicológica com repercussão na área emocional e interpessoal.
A autoafirmação destrutiva se configura como uma enorme carência afetiva, que alguns sujeitos têm, de estar em evidência para ter suas qualidades reforçadas a todo o momento, escondendo a falta de amor-próprio. Isso significa a substituição instantânea do pensamento pela ação, onde não se consegue dominar o caráter impulsivo, gerando a incapacidade de raciocinar.
Essas pessoas tornaram-se incapazes de dizer não aos apelos extasiantes e as falsas expectativas sociais. Além disso, a autoafirmação transforma-se em uma manifestação neurótica de se destacar diante dos outros, para ser respeitado, aprovado e enaltecido.
Os adultos que buscam essa autoafirmação, talvez, viveram experiências traumáticas, nas quais sentiram-se desprezados, excluídos ou submetidos às situações inferiores. Muitos não conseguiram superar os conflitos internos dos impulsos instintivos entre as instâncias psíquicas ou não superaram os conflitos edipianos.
Com o avanço ao acesso à internet e das redes sociais, abriu-se um ciberespaço para autoafirmação através de fotos, selfies e check-ins. Um frenesi que expõe a nossa fragilidade egoica, por uma procura delirante de aprovação dos internautas.
É muito comum ver pessoas querendo se autoafirmar o tempo todo: “eu tenho o melhor carro”, “eu sou empreendedor”, “eu sou doutor”, “eu tenho amigos importantes”, “eu apareço nas colunas sociais”, “eu sou uma pessoa religiosa”, “eu sou o cara”, “eu sou uma mulher linda”. Assim, tem gente que leva a vida, enganando o seu próprio eu.
O ego exagerado é uma demonstração de como funciona o mecanismo de compensação desse tipo de personalidade, que tem uma visão alienada do mundo, com o objetivo de agradar a si mesmo e aos outros. É um recurso que o inconsciente desses indivíduos utiliza para compensar o seu medo de perder espaço na vida pessoal e social. Aliás, espaço que nem eles mesmos sabem qual é.
Por outro lado, a sociedade de consumo vende a ideia de que apenas os mais “brilhantes” podem alcançar o “topo do sucesso”, aumentando em doses estonteantes o tamanho do ego. Essa busca venal de autoafirmação produz angústia, como resposta a um perigo real ou imaginário, sendo resultado de um fluxo incontrolável de excitações de origem interna ou externa.
É por isso, que tais pessoas são rotuladas de narcisistas, mas na verdade são mal-entendidas, prejudicando as suas vidas em todos os sentidos. Expondo uma fraqueza extrema diante de situações simples ou difíceis, que não exigem autoafirmação.
Portanto, abusar dos mecanismos de compensação constitui a negação de conhecer a si mesmo. A psicoterapia pode ajudar a reverter esse processo de autoafirmação destrutiva, caminhado em direção do equilíbrio intelectual, emocional e espiritual, como “tripé” para conquistar autoestima e autoconfiança.
Jackson César Buonocore é sociólogo e psicanalista
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