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Não há um só dia que não seja da mulher

Eu sou um sujeito do interior. Fui criança numa cidade em que, assim como no resto do mundo, havia muito mais mulheres do que homens. Só na minha casa eram cinco: minha bisavó, minha avó, duas tias e minha mãe. Cinco meninas para três meninos — meu pai, meu irmão mais moço e eu.

Mas levando em conta que meu pai ficava o dia inteiro fora, no trabalho, e que meu irmão caçula chegou ao mundo quatro anos depois de mim, é justo dizer que passei um bom tempo da infância ocupando o posto de único homem da casa. Um só bicho confuso, surpreso, entre cinco criaturas perfeitas.

Minha bisavó tinha poderes mágicos. Seus pés de hortelã, erva-doce e arruda, boldo e guiné curavam todo o mal que havia no mundo. Minha avó ouvia jogo de futebol no rádio gritando palavrões, bebia pinga, sabia histórias de assombração, usava saiote sob o vestido e era uma festa inteira. Minhas tias e minha mãe voltavam do serviço à mesma hora com um pacote para mim, e era sempre um pedaço de bolo, uma fatia de pão com manteiga, duas balas Juquinha, uma maria-mole e essas coisas que àquele tempo faziam a alegria de uma criança.

Em minha casa, o lugar mais importante era a cozinha. Porque era ali que as cinco mulheres existiam juntas. De lá, sentado debaixo da mesa onde minhas avós escolhiam o arroz, eu sonhava com o mundo que havia para além do nosso quintal.

Lá pelas tantas eu adoeci. Virei dessas crianças que passam mais tempo em hospital do que em casa, e as cinco se desdobravam na tentativa de encontrar unguentos, simpatias, benzedeiras e outras formas de ajudar os médicos. Eu sobrevivi. E não tenho dúvida de que foram elas, reais beneficiárias da Graça Divina, com a boa ajuda da Medicina, que me mantiveram aqui.

Foi o amor absurdo e desmedido das cinco mulheres que me deu esperança em tempos de agonia. Seus olhos de afeto iluminaram minhas noites escuras, suas mãos operosas me empurraram para a frente. Sua presença distante me manteve no caminho. Mesmo longe, sigo pertinho delas, andando afoito neste mundo que fica para além do nosso quintal. Aprendendo a passar adiante o amor que elas me deram desde sempre.

Tudo isso porque careço dizer a você que o fato de existir o Dia Internacional da Mulher não me incomoda, não. Nem um pouco. Mas penso na data como um jeito de nos lembrar que todos os outros dias do ano pertencem a elas.

Para mim, o mundo é a casa de todas as mulheres, um lugar onde os homens são, uns mais e outros menos, apenas visitantes mal habituados. E a mulher, ahh… a mulher é o resultado do sonho mais lindo de Deus.

André J. Gomes

Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.

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