N°274, DE 2015: PROIBIDO ACEITAR METADES

O caminho até um amor verdadeiro é cheio de labirintos e desafios aqui e ali. Qualquer passo dado fora de ritmo pode acabar em uma queda até o fundo do poço. Quem nunca se sentiu tão vazio que viu em cada oportunidade uma chance de se ver inteiro de novo?

Mas, se tem algo pior do que estar vazio, é estar preenchido só até a metade. É ter uma parte do seu coração colorido com o mais vibrante e fluorescente vermelho, mas a outra parte estar completamente sem cor, com o contorno fosco e sem vida. Vivemos em busca da pessoa que irá nos completar, mas para isso acontecer, o outro tem que estar inteiro. Se vier incompleto, não só não nos envolve, como também nos torna ainda mais solitários do que se estivéssemos sozinhos.

Estar com alguém que não se entrega a você com a mesma intensidade é viver de sonhos interrompidos, buscando sempre em detalhes escondidos qualquer sinal de carinho. Mas se é amor, não há motivos para ir atrás desses sinais, pois deveriam estar tão claros de modo que atrás de qualquer “bom dia” é visível o cuidado e qualquer palavra nos faz sentir acolhidos.

Eu já tive tantas noites mal dormidas, já quis abrir meu peito e sair de dentro de mim e procurei em cada abraço alguém que quisesse andar o mesmo caminho que eu. Desejei alguém que me desvendasse e soubesse lidar com cada imperfeição e cada cicatriz que levo comigo. Mas acabei me cansando de ouvir sempre as mesmas histórias, de rir das mesmas piadas e de colocar sempre o mesmo sorriso de canto de boca, fingindo que estou completa. Porque ninguém nunca me completou. Ainda não conseguiram encher as duas partes de mim e mesmo que eu quisesse dizer a mim mesma que não preciso estar cheia, decidi que ninguém vale o esforço das minhas falsas aceitações.

Não digo que preciso de um joelho ralado, de tanto alguém se rastejar, atrás de mim. Porém, digo que não preciso do meu coração apertado de tanto tentar se encaixar onde não cabe. Ficou proibido aceitar metades. Não se pode mais nadar em piscinas rasas quando dentro de você residem as mais profundas águas.

Despedir-se e lidar com a saudade dói menos do que viver com a sensação de que poderia ser mais, de que queria ter mais e que merecia ter mais do que possui. Pode ser que atravessando a rua você encontre alguém que mereça ser convidada a entrar, enquanto isso é melhor guardar todo o seu amor dentro de uma caixinha e deixar a alma respirar.

Não adianta dizer um “adeus” e depois implorar por um “fica”. Se a pessoa quer ir, deixe que vá e ainda agradeça por isso, pois ela está deixando um espaço vago para alguém que realmente queira estar ali com você. Eu já quis muito ser o mundo de alguém, já me refiz em infinitas peças com diversas formas só para não correr o risco de não me encaixar em algo. Mas e os meus espaços vazios, quem se refaz para poder completar? Sempre me doei e me doí, mas e quem se doa por mim?

Depois de tantos tropeços e histórias mal resolvidas, escolhi largar de vez os quebra-cabeças. Desisti de tentar montar, entender ou refazer. Pois de tanto aceitar metades, acabei esvaziando o que antes havia de completo em mim. E não adianta, não se pode mendigar atenção de ninguém, não pode viver a vida a mercê de migalhas de afeto ou se esforçar para se incluir onde você não cabe. Para estar completo, é preciso estar com alguém que abra espaço para você entrar. Como alguém que limpa a casa para receber visitas, assim como você se arruma para acomodar alguém dentro do peito. Então, não aceite menos do que seu coração pede.

Os “talvez” os “tantos faz” não me atraem mais. Para que preferir o morno se você pode ter o gelado ou o quente? Eu não quero algo o qual eu me acostume, quero o mais difícil ou mais fácil, nunca o meio-termo. Quero que segure minha mão com força ou que nem chegue a tocá-la. Quero que me ame para sempre ou que nunca diga tais palavras. Quero ultrapassar todos os meus limites, explorar o que nunca antes tenha sido. Quero algo queimando a minha pele ou congelando meus sentidos, mas nunca em uma temperatura confortável. Quero ir de 0 até 100, sem nunca parar no 50. Ou fico onde estou, ou vou até o final. Nada de metades pra mim.

Imagem de capa: 2shrimpS/shutterstock

Najara Gomes

"Paulista. Pisciana. 20 anos de excesso de sentimentos. Nada como um gole de café e uma dose de drama pra passar o dia. Meu bem, eu exagero até nas vírgulas."

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