Marcel Camargo

A lágrima mais pesada é aquela que ninguém vê

Imagem de capa: Juta, Shutterstock

Ainda que tenhamos alguém com quem possamos compartilhar os nossos pesares, as lágrimas mais amargas serão aquelas que cairão enquanto estivermos sozinhos, enfrentando solitários a luta contra os nossos próprios fantasmas, na solidão das noites sem fim.

Embora seja prudente sabermos a quem poderemos confessar nossas fraquezas e mostrar toda dor que pesa dentro de nós, segurar-se, reter em si toda e qualquer tristeza, temendo a exposição do que se sente, é por demais prejudicial aos nossos sentimentos. Tudo o que se avoluma além do suportável acaba eclodindo de maneira desequilibrada, seja na forma de somatizações, de explosões de fúria, seja no fechamento cada vez mais doído dentro de nossa própria escuridão.

Todos passamos por fases em que a tristeza parece pontuar a maior parte dos dias, por razões externas, como a morte de um ente querido ou um divórcio, por exemplo, ou por razões íntimas, quando nos sentimos desanimados, menos gente do que todo mundo, sem nem mesmo saber por quê. Adentrar por entre as tempestades internas é um dos preços que pagamos por podermos refletir, analisar o mundo, abstrair e sentir o que nos rodeia ao nosso modo.

Somos uma carga ambulante de sentimentos vários, de hormônios, de sentidos, de memórias, ou seja, carregamos as bagagens emocionais por onde estivermos, digerindo-as de acordo com nossa forma de encarar as coisas. Cada pessoa sente de maneira distinta e, por isso, um mesmo evento deixa marcas diferentes em cada pessoa que o vivenciou. Ninguém sai igual dos lugares por onde passa; nosso eu se transforma a cada dia, num ritmo pessoal, próprio e intransferível.

Por essa razão, não se pode esperar que alguém sinta e enxergue o mundo exatamente como se espera, pois as nossas reações são só nossas e de ninguém mais. Alguns se demoram longamente no luto do que e de quem se foi; outros precisam de menos tempo para se reerguer. Alguns externam a tristeza sem contenção alguma; outros se privam de compartilhar suas lágrimas. Não existe certo e errado na dor, existe tristeza e necessidade de empatia por parte de quem está ao lado.

No entanto, ainda que tenhamos alguém com quem possamos compartilhar os nossos pesares, as lágrimas mais amargas serão aquelas que cairão enquanto estivermos sozinhos, enfrentando solitários a luta contra os nossos próprios fantasmas, na solidão das noites sem fim das tempestades que parecem varrer de nós qualquer resquício de esperança.

E é assim, e é por isso mesmo, que conseguiremos reunir forças para sair dali, em direção ao novo, ao sol que nasce, ao sonho que renasce, aos encontros mágicos que nos aguardam, ao amor que sempre se aninha em nossos corações. Porque fomos feitos para sobreviver, para resistir, para durar, enquanto vida houver em nós, enquanto vidas estiverem pulsando ao nosso redor.

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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