Estar lá, por Fabíola Simões

Numa época distante eu achava que “prova de  amor’ era um termo usado para definir grandes feitos,  como ajoelhar-se no meio da rua na madrugada ou encomendar uma faixa com declarações de amor copiadas de versos do Vinícius. De fato vivi algumas situações pareciadas na adolescência e guardo com carinho esses momentos de pura paixonite juvenil.

Mas o tempo passa.  Ah…como passa… E muito mais que esperar provas de amor intempestivas, descobrimos que amor de fato é estar lá.

Esta semana teria que fazer um exame de saúde e durante o preparo passei muito mal. No banheiro, me contorcendo de dor e agarrada à calça de moletom do meu marido, não conseguia pensar em mais nada. Porém, horas depois, constatei admirada que aquela tinha sido uma grande prova de amor. Segurando meu cabelo, enquanto eu vomitava vezes seguidas, aquele homem participava de minha agonia numa parceria tão amorosa, simples e verdadeira que, apesar do excesso de intimidade, me mostrou que estará comigo até nos momentos em que o cenário se restringir ao chão frio e inóspito, e a paredes cor gelo nada acolhedoras.

Não havia nada de romântico entre aquelas toalhas felpudas e escovas de dente coloridas. Mas ele estava lá. Preocupado, segurando forte minha mão _ e meu cabelo _, garantindo que logo eu estaria bem.

Descobrir que existe alguém que está lá nas horas mais difíceis e necessárias, ou nos momemos mais intensos e felizes é o que faz esse alguém ser tão especial ou um grande amor.

Lembro que uma amiga querida me contou que quando perdeu a mãe, seu marido era quem mais chorava. Aquilo lhe comoveu tanto a ponto dela não saber quem alí deveria consolar quem. lnexpicavelmente, o choro dele foi o estar lá com ela. Sentir a dor que ela sentia e partilhar de sua angústia tinha  sido mais que uma prova,  tinha sido o amor em si.

Estar lá é ser mão que entrelaça seus dedos aos nossos, desmanchando os nós,  afrouxando
as defesas, apaziguando as imprevisibilidades.
Estar lá é amparar dúvidas, dissecar incertezas, afugentar medos:

É segurar a barra quando a vida pesa além da conta, e não baixar a guarda quando a imperfeição dos dias faz morada no vitral de nossa paisagem.

Estar lá é correr para ver o céu se colorir de vermelho no fim ao dia e não se esquecer de
partilhar a novidade com quem ama, nem que seja à distâncias somando e dividindo a alegria.

É absorver a felicidade inteira, para depois dividi-la em pedaços generosos descobrindo que
só assim restará beleza e euforia.

Estar lá é entender que a vida não é uniforme, ela é repetitiva; e se estivemos presentes num nomemo importante, o estaremos sempre, e sempre, e sempre, de uma forma ou de outra:

Estar lá é nunca ser ausência que dói, que machuca, que vira lembrança e depois ressentimento. É entender que é necessário fazer-se presente, mesmo que de uma forma invisívei, mas ainda assim, viva.
É aprender a conduzir uma dança que só pode ser dançada a dois, relevando a falta de jeito de quem tenta, ou ao menos se esforça pra ser o melhor enquanto está lá.

Estar lá é ser capaz de perdoar, colocando uma pedra em cima de certas instabilidades e dissonâncias, desenvolvendo a paciência e a tolerância de quem apenas quer estar lá

Ao constatarmos que estar lá é mais importante que dar provas do nosso afeto, descobrimos que nossa história real está longe de ser comparada aos enredos românticos ou clássicos de livros e filmes.

Esperamos demais da vida e do amor, e nos esquecemos que só precisamos contar com alguém de verdade.

Alguém que de alguma forma esteja lá.

Fabíola Simões

Escritora mineira de hábitos simples, é colecionadora de diários, álbuns de fotografia e cartas escritas à mão. Tem memória seletiva, adora dedicatórias em livros, curte marchinhas de carnaval antigas e lamenta não ter tido chance de ir a um show de Renato Russo. Casada há dezessete anos e mãe de um menino que está crescendo rápido demais, Fabíola gosta de café sem açúcar, doce de leite com queijo e livros com frases que merecem ser sublinhadas. “Anos incríveis” está entre suas séries preferidas, e acredita que mais vale uma toalha de mesa repleta de manchas após uma noite feliz do que guardanapos imaculadamente alvejados guardados no fundo de uma gaveta.

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