Marcel Camargo

É preciso saber a hora de sair de cena

Muitas pessoas sentem-se donas do que, na verdade, a vida nos empresta, para que aprendamos que o que é nosso de fato é tão somente o que possuímos dentro de nossos corações, nada mais do que isso. Pessoas e coisas saem de nossas vidas, mas a essência do que foi verdadeiro jamais se despedirá de nossas almas.

O momento certo de se retirar do emprego, de casa, de uma relação, equivale a salvar vidas: a nossa e a de quem se beneficia também. Ter a consciência de que é chegada a hora de partir para outras paragens será um dos maiores bens que poderemos fazer a nós mesmos e a quem amamos de fato. Estender-se além do permitido, além do que já se saturou e deu o que tinha que dar, em nada nos ajudará.

Há pessoas que se recusam a se aposentar, agarrando-se ao serviço como algo sem o qual não se vive. Outros se aposentam, mas continuam na lida. Embora alguns ainda consigam se manter inteiros por anos e anos, muitos acabam por comprometer uma imagem que, até ali, era imaculada. Perdem-se por bobeira, por simplesmente não querer desfrutar de um descanso mais do que merecido. Mal sabem o tanto de vida que existe além dos escritórios.

Da mesma forma, existem os relutantes em aceitar que o relacionamento terminou, que a amizade extinguiu, que nada mais há a ser regado por ali, além de terrenos infecundos. A pouco e pouco, distanciam-se da própria dignidade, na luta vã por continuar namorando, casado, amigo que seja, quando não se encontram mais possibilidades de florescer afetividade naquele lugar.

E há quem não se permite desistir de nada nem de ninguém, como se alguma coisa ou pessoa nesse mundo fosse propriedade de outrem. Sentem-se donos do que, na verdade, a vida nos empresta, para que aprendamos que o que é nosso de fato é tão somente o que possuímos aqui dentro de nossos corações, nada mais do que isso. Pessoas e coisas saem de nossas vidas, mas a essência do que foi verdadeiro jamais se despedirá de nossas almas.

A passagem do tempo carrega consigo muito do que achávamos ser eterno e imutável, obrigando-nos a nos despedir de muito daquilo que relutávamos em deixar para trás. Mas não tem jeito, o que tiver de ser, será; o que tiver que ir, vai-se; o que for para sempre, há de permanecer, mesmo que nas nossas mais doces lembranças. É preciso saber a hora de sair de cena, no palco e na vida. É assim que tudo de bom se eterniza onde existiu verdade e amor.

Imagem de capa: Ermakov Evgeny/shutterstock

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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