A vida comumente é estranha. Às vezes ela nos apresenta o amor da vida em um momento no qual estamos convictos de que ele é algum tipo de lenda, alguma espécie de Saci-Pererê mitológico e nos pega desprevenidos. E era assim que eu estava quando te toquei com os olhos pela primeira vez. Naquela festa, em meio às bebidas, canapés e chatices teu olhar encontrou o meu e eu descobri que o amor é uma verdade. Descobri que o mundo guarda em si tesouros valiosos que bem poucos sabem apreciar.

Eu soube do seu valor assim que te vi. Eu soube quem você era assim que te contemplei. Você não sorria. Guardava em si uma tristeza mansa. Tinha os olhos mais profundos que eu já conheci e neles parecia haver algum tipo de súplica pela verdade.

Eu também não gosto de atuar, não gosto dessa peça na qual nos jogam em um evento social, na qual mãos se dão sem se sentirem, na qual abraços acontecem sem o ardor da verdade. Também não curto beijos no ar. Gosto de beijos nas bocas certas e a sua me pareceu a mais certa de todas.

Ei moça, quem nos tempos de hoje ainda dança? Outras danças sim, mas a nossa foi única e especial e foi assim que eu me senti ao te puxar para aquela pista tão cafona. Você me deslumbrou e eu quis saber tudo sobre você. Me interessei por todas suas alegrias mas, sobretudo, por todas suas tristezas. Quis que me contasse suas milhares de histórias em meio a um rodopio e outro. Quis te ouvir eternamente e não me surpreendi ao notar, depois de algum tempo, que já não havia mais música, que já não havia mais festa, que já não havia mais nada além de nós dois.

O mundo congelou. O mundo parou e a ânsia das horas morreu em nossos braços. Tínhamos o tempo preciso para nos amarmos em palavras, toques, versos e beijos.

Mãos nas mãos, olhos nos olhos, sorriso com sorriso. Mão nas coxas, corpos em desejo e a vontade de ficar para sempre. Um gozo, um gemido e o tempo voltou a sua monotonia. A banda retornou e cantou um último “We are the world”. Você partiu.

Nos perdemos no mundo como se o tempo fosse uma correnteza a nos arrastar para longe um do outro. Você se foi. O amor não. Teus olhos. O prazer da tua companhia. O delírio de me descobrir em você. Isso não morre.

Nunca mais te vi, nunca mais ouvi tua voz. Nenhum dos amigos a quem perguntei soube dizer de você. A vida continuou depois disso, a vida assoprou as folhas das árvores que se vestiram e despiram incontáveis vezes e você virou em mim um sonho bom.

Te lembrei todas as noites depois daquele dia. Te quis tocar em incontáveis momentos. Te pensei com ternura nas datas em que o mundo para e olha com alegria os seus.

Outras vieram, uma ficou. Amei-a de uma forma diferente. Assumi quilos de responsabilidades, mas o mundo não te apagou em mim.

Hoje te guardo carinhoso e te penso com o meu melhor. Desejo, moça bonita, que tenha encontrado no mundo alguém que seja para ti o abrigo certo para os dias de tormenta, o porto seguro em momentos de incertezas, a segurança nas horas de aflição. Que esse outro amor seja teus olhos quando não puder ver, teu consolo quando precisar de um ombro. Que ele saiba te amar na sua medida mais certa. Que ele esteja sempre ao seu lado, te nutrindo e te cuidando. Que ele te dite aos ouvidos as mais lindas palavras. Que ele saiba com um olhar, assim como eu soube, a maravilha que você é e te ame exatamente por isso.

Para você todos os dias eu entrego meus melhores pensamentos e para ele, moça bonita, para esse outro que tem a sorte da sua companhia eu peço baixinho: Cuida dela pra mim.

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Texto de ficção – Imagem de capa meramente ilustrativa

 

 

Vanelli Doratioto

Vanelli Doratioto é especialista em Neurociências e Comportamento. Escritora paulista, amante de museus, livros e pinturas que se deixa encantar facilmente pelo que há de mais genuíno nas pessoas. Ela acredita que palavras são mágicas, que através delas pode trazer pessoas, conceitos e lugares para bem pertinho do coração.

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