Marcel Camargo

Conversem sempre, porque o silêncio são pedras que se tornam muros

Antigamente, era mais fácil conversar. Não tinha celular, não tinha computador, nem canais pagos. Antigamente, as pessoas podiam, sem medo, colocar cadeiras nas calçadas, após o jantar, para papearem com os vizinhos. Telefonemas eram caros, então a gente se esforçava para encontrar as pessoas de quem sentíamos saudade.

A gente brincava na rua, só parava na frente da televisão enquanto fazia a digestão. Na verdade, quem mandava na TV eram os pais e a gente só assistia o que eles permitiam e quando eles queriam. Até na escola havia mais conversa, porque os professores não eram obrigados a usar tecnologias, vídeos, áudios, ou seja,usavam mesmo o seu poder de fala e, assim, aprendíamos a escutar.

Mas não tem como barrar o progresso, ele veio com tudo e continuará vindo. A violência das ruas obriga-nos a nos cercarmos de parafernálias eletrônicas, para que nossa solidão seja minimizada. O contato com os outros torna-se predominantemente virtual, frio, distante, mecânico. Quase não há mais olhos nos olhos, mas sim trocas incessantes e insípidas de emojis, figurinhas, memes e nudes.

As pessoas desaprenderam a ouvir o outro, a escutar sem interromper, sem cortar o espaço da fala alheia. E, se não escutamos, também não conseguimos lidar com o que vem na contramão daquilo em que acreditamos. Nós nos sentimos pessoalmente ofendidos, caso discordem de nossas preferências políticas, de nossas opiniões musicais, enfim, parecemos um bando de narcisistas orbitando em volta do próprio umbigo.

É preciso conversar e, para tanto, é necessário, sobretudo, saber ouvir, escutar o que o outro tem a dizer, entendendo razões que não são nossas, aceitando visões outras de mundo, para que possamos interagir de fato, com empatia e verdade. Não há aprendizado sem troca e, sem esse vai e vém, ninguém ganha nada, nada se prende, nada muda.

Conversem sobre tudo, com todos que estiverem dispostos, sempre, porque voz calada é como pedra, que constrói muro. E muro divide, isola, cega e entristece. A gente só melhora na interação com o outro, com o mundo lá fora, e isso requer conversação. Requer maturidade e disposição para enfrentar uma verdade inconteste: nem sempre você estará certo. E está tudo bem.

Photo by cottonbro from Pexels

Publicado originalmente em Prof Marcel Camargo

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

Recent Posts

O filme sem filtro da Netflix que não pode ser visto perto das crianças de jeito nenhum

Muita gente deu play nesse filme da Netflix sem saber que ele é completamente sem…

4 horas ago

A beleza do amor maduro em 5 filmes apaixonantes na Netflix para assistir nesse fim de semana

Depois de errar, recomeçar e escolher: 5 filmes da Netflix sobre amar de verdade ❤️

6 horas ago

Este filme da Netflix foi indicado a 10 prêmios e vai fazer a sua noite valer a pena

Este filme da Netflix indicado a 10 prêmios não é fácil de assistir — e…

6 horas ago

Filme recente de Steven Spielberg que foi indicado a 7 Oscars está na Netflix

Steven Spielberg resolveu se expor, ganhou 7 indicações ao Oscar e você pode ver na…

6 horas ago

Aborto sem consentimento, invasão e ameaças: os relatos que fizeram a Justiça agir contra Paulo Miklos, da banda Titãs

Medida protetiva não é “detalhe de processo”: quando a Justiça concede, ela cria regras imediatas…

7 horas ago

Amor, interesse e jogo psicológico: o filme da Netflix que incomoda sem pedir licença — e acerta onde dói

Parece comédia romântica, mas este filme da Netflix joga sujo com amor e dinheiro ❤️‍🔥💸

1 dia ago