Marcel Camargo

Confia em quem vê a tristeza por trás do seu sorriso

Não está fácil mantermos a confiança nas pessoas, ultimamente, sei lá, parece que os valores estão de ponta cabeça, bagunçados, e acabam bagunçando os princípios, a lealdade, a cumplicidade. Um amigo pode vir a decepcionar a gente em troca de um churrasco num sítio com piscina, por exemplo. E quem ainda se mantém fiel às próprias convicções de parceria afetiva costuma dar com a cara contra o muro.

Pessoas que achamos conhecer bem agem, de repente, de uma maneira totalmente oposta ao que esperávamos. Quem mora conosco, num belo dia, comporta-se como alguém que não conhecemos, como alguém por quem jamais nos apaixonaríamos. No trabalho, colegas nos difamam pelas costas; na mesa do bar, brindamos com quem nos critica veladamente. E a gente vai pisando em ovos, tateando no escuro, porque quase ninguém mais parece ser o que na verdade é.

Difícil, nesse contexto arenoso, compartilharmos verdades de uma forma transparente, na certeza de que o retorno será certo e na mesma medida. Difícil encontrar terrenos serenos onde aninhar nossos medos com segurança. Raro podermos dividir nosso melhor e nosso pior com quem jamais teria a indecência de usar algo daquilo contra nós mesmos. Por isso há tanto nó na garganta, tanta pressão no peito, tanta dor de estômago, tantas lágrimas no escuro, acumulados que ficam os sentimentos dentro de nós.

Mas a verdade é que ninguém sobrevive sem ter alguém em quem confiar, alguém com quem dividir dor e contentamento, porque ninguém é capaz de carregar sozinho por muito tempo tudo o que cabe dentro de si. Sentimentos não aceitam serem guardados, não conseguem adormecer sem se espalhar por aí. A gente precisa dividir nosso mundo, para que aquilo que for bom alcance mais pessoas e o que não for seja superado e deixado para trás.

O bom dessa vida é que ela sempre nos presenteará com encontros especiais, com pessoas que nos iluminarão os caminhos, ajudando, aconselhando, apoiando, escutando o que dissermos com interesse e nos amando de volta sem ressalvas. E será junto a elas que poderemos ser transparentes, sem julgamentos, e será junto a elas que nossos dias se tornarão mais felizes e leves, porque elas entenderão cada nuance que se esconde em nosso olhar, impedindo-nos de afundar, de desistir. Haverá alguém em quem poderemos confiar e gratidão é o que sempre alimentará essa troca mágica de energia positiva.

Imagem de capa: Kotin/shutterstock

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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