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Amar é catarse

Relacionamento bom é aquele que tem vida. E vida é sinônimo de movimento.

Tem gente que acha que um bom namoro, casamento ou mesmo amizade é aquela onde existem acordos bem definidos, deveres e direitos estabelecidos, leis muito claras, pessoas sujeitas a punições e recompensas caso ajam fora ou dentro dos moldes cirúrgicos do amor ou da amizade.

Eu fico pasma, mas ainda existe gente que acredita em pintar o amor com as cores da perfeição, colocar no dia a dia o ser idealizado e viver frustrado para sempre ao ver o outro quase nunca sendo capaz de cumprir esse papel.

Para mim relacionamento bom é cíclico, é espaço para amor e descobertas, companheirismo e crescimento, troca e, por vezes, individualidade. É movimento, é caos e calmaria. Tudo no mesmo território. É ficar bem pertinho do lado humano do outro a ponto de deixar aflorar fadas e monstros. A ponto de querer a plenitude do ser e ver beleza nisso. A ponto de se deixar ser livre, a si mesmo acima de tudo. Livre para falar, para expressar, para agir, para ser e sentir tudo o que surgir.

Relacionamento bom pra mim tem jeito de choros e risos, taças vazias de vinho, comidas malucas feitas à quatro mãos, tardes de domingo de conversas e consolos, segundas-feiras descabeladas, desencontros, reencontros, olhos nos olhos do começo ao fim.

Mais importante do que querer colocar todos os pingos nos ‘is’ e ter controle de tudo (ou pensar que se tem!) é dar um abraço ou um espaço para que sentimentos respirem e fluam pelos ares da casa. É ceder um ouvido, uma fala de alívio, não uma verdade, não uma sentença, não uma vingança, apenas um silêncio e um respeito com a incansável maré da vida que ora nos explode de emoções e ora nos deixa amáveis e amando feito noite de primavera.

Porque eu acho que amor sem espontaneidade é como dormir de sutiã. E paixão sem possibilidade de expressão é como um furacão de flores guardado debaixo do tapete. E amizade regrada é a mesma coisa que ficar na fila do banco esperando para pagar o cartão de crédito vencido.

Não são os defeitos, as divergências, os problemas que mais destroem relacionamentos, é o tédio! A chatice conjugal. A falta de habilidade e criatividade para recolorir os dias, é o comodismo nos atos mecânicos. O esquecimento de que a vida pode ser mais interessante, curiosa, dinâmica e verdadeira.

Então, eu espero que os nossos relacionamentos sejam chuvosos, montanhosos, ensolarados, dinâmicos, transbordantes e sorridentes. Samba de Cartola com Dorival Caymmi.

Amar é Catarse!

E assim, alguém poderá dizer que eles foram felizes, tristes, loucos, sãos, confusos, coerentes, espontâneos, mutantes e vivos até que uma morte os separe.

Imagem de capa: Leszek Glasner

Clara Baccarin

Clara Baccarin escreve poemas, prosas, letras de música, pensamentos e listas de supermercado. Apaixonada por arte, viagens e natureza, já morou em 3 países, hoje mora num pedaço de mato. Já foi professora, baby-sitter, garçonete, secretária, empresária... Hoje não desgruda mais das letras que são sua sina desde quando se conhece por gente. Formada em Letras, com mestrado em Estudos Literários, tem três livros publicados: o romance ‘Castelos Tropicais’, a coletânea de poemas ‘Instruções para Lavar a Alma’, e o livro de crônicas ‘Vibração e Descompasso’. Além disso, 13 de seus poemas foram musicados e estão no CD – ‘Lavar a Alma’.

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