“Além do verbo amar”, uma crônica sobre o verdadeiro amor

Por Welton Rodrigues da Silva

Talvez um dia o amor tenha sido algo parecido com um sentimento, mas hoje ele não passa de uma palavra, banalizada e longe, muito longe, do seu significado original. Junto com as transformações léxicas e as mutações morfológicas da língua, mudou-se o sentido do termo, dando-lhe uma conotação mais ampla e vulgar. O interessante é que essa mudança seguiu uma via de mão dupla, pois assim como o nosso entendimento sobre a significação de um vocábulo confere-lhe atributos novos, os novos atributos agregados à palavra transforma sua verdadeira essência dentro de nós.


Eu, definitivamente, não acredito no amor romântico, mas acredito em algo que dentro de certa lógica poderia ser chamado de amor. Há muitas ideias que são difundidas a respeito desse sentimento, ideias romanescas e totalmente desprovidas se um sentido prático. Teorias sobre almas gêmeas, o príncipe encantado ou a mulher perfeita e sempre tão virtuosa foram acrescentadas a cultura de massa através da literatura, da televisão e do cinema de uma forma tão contundente e profunda que se tornou uma crença generalizada, uma anomalia psíquica das massas. Nasceu assim uma premissa falsa.


O amor, da forma que se acredita que ele seja, não existe no mundo real, contudo as mágoas, frustrações e decepções em decorrência dessa crença têm destruído famílias e relacionamentos e jogado as pessoas em um histerismo coletivo, raiva e desesperança. E se você procura uma constatação para a minha teoria, não será difícil encontrar. Por exemplo, escolha aleatoriamente dez casais que convivam a mais de oito anos e tente ouvir de cada um a sua opinião a respeito do seu parceiro. Pergunte-lhes, por exemplo, se o amor com o qual convivem se parece com aquilo que eles julgavam ser amor no início da relação. Aposto que você irá se surpreender, se conseguir respostas sinceras. O engraçado nisso é que você está cercado de pessoas infelizes que não conseguem encontrar em suas relações aquilo que eles acreditam existir, mas que por observação não existe em nenhum lugar.


Tanto os homens quanto as mulheres procuram uns nos outros as expressões de um sentimento que, se existe, não possui a forma como é apresentada ao mundo e nem sobrevive às exigências causadas por esse erro de interpretação. “Quem ama é assim, quem ama é assado, quem ama não faz isso, quem ama faz assim, quem ama é, quem ama não é.” Isso são generalizações! Abra seu feed de notícias de uma rede social e você terá centenas de definições, pensamentos, observações, citações pomposas, a grande maioria delas, se não sua totalidade, irreais e impraticáveis. E o que acontecerá com você diante dessa avalanche de informação? Você constrói uma crença baseada numa definição, no mínimo, equivocada.
Então você parte para o mundo e para a vida em busca desse amor ideal, desse sentimento puro e incorruptível, mas que não existe. Então vêm as frustrações, as decepções, as mágoas que se amontoam com as experiências fracassadas e você começa a se perguntar por que não é merecedor do amor que tanto quer. Ninguém está à altura da definição que se dá ao amor e a razão disso é muito simples: somos, no fundo, seres falhos e cheios de vícios e é exatamente isso que nos torna humanos. Se você duvida disso, olhe para dentro de si mesmo, mergulhe dentro de sua alma e me diga: o que aconteceria se o mundo pudesse ouvir todos os seus pensamentos? O que aconteceria se você revelasse todos os seus segredos? O que você faz quando está sozinho? Nós mesmos não somos capazes de amar alguém da forma que esperamos ser amados e nos sentimos frustrados quando o outro não nos ama da forma que queremos. Por isso fingimos, ocultamos os nossos verdadeiros sentimentos e temos a tendência de achar que o outro deveria se contentar e se sentir amado com o “ouro de tolo” que lhe oferecemos. Mas esse ser é igual a nós, o outro também finge, não por maldade, assim como nós também não, mas porque quer dá o amor que pensa ser real.


Então, assim não vale a pena se relacionar e está tudo perdido? Claro que não! Apenas encare o outro como um ser igual a você com as mesmas capacidades e limitações, com os mesmos vícios e as mesmas tentações. Não tente encaixar a sua definição quadrada em um espaço humano redondo. Pode as arestas, confronte seus sentimentos dentro uma realidade mais consistente. Não é porque alguém não te ama da forma que você espera que ela não te ame com tudo que pode. O licor pode ser perfeito, mas sempre trará o gosto das impurezas do tonel onde foi derramado. Não é o amor que molda as pessoas, mas as pessoas que moldam sua forma de amar de acordo com seus defeitos e virtudes.
E da próxima vez que usar a frase “eu te amo”, repare antes no que sente, para não se enganar e não enganar ninguém.

+Welton Rodrigues da Silva

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