Quando eu era menina, minha mãe tinha aquele hábito do interior de dizer: “Moça boa não deve ser arroz doce de festa…” Era pra gente se resguardar, valorizar a imagem, não ser presença batida nos bailinhos, não ficar cansativa demais. Mas naquele tempo o perigo era ser enjoativa só no fim de semana; hoje a coisa debandou de vez: Toda hora no instagram, todo tempo no feed de notícias, cada segundo no whatsapp. Impossível fugir, difícil não ser encontrado, improvável desintoxicar.

A vida é barulhenta. Dentro ou fora de nós, nada se aquieta. Queremos nos comunicar, exigimos respostas na velocidade de super-hiper-mega bytes, contabilizamos “notificações”, desejamos ser cutucados de volta. Sem perceber, desaprendemos a silenciar. Desaprendemos a suportar a voz que cala e sofremos com a falta de respostas. Desaprendemos a ser ausência.

De vez em quando é necessário ser silêncio. Habituar-se à própria presença, inteirar-se de sua solidão. Comunicar tudo sem dizer nada.
A gente vive certo porque errou um dia. E silencia quando entende que todas palavras foram ditas. Porque de vez em quando, aquilo que conserta é aquilo que cala ou ausenta. O nada que diz tudo. Quando o verbo é equívoco, o silêncio é corretivo.

Mas não pode ser um silêncio forçado. Daquele tipo que quer chamar a atenção. Tá cheio disso por aí… De gente que anuncia a saída. Que exclui um amigo por desconforto consigo próprio. Que usa o silêncio como arma, a fim de manipular o outro. Não é por aí; falo de silêncio pra serenizar a alma, proteger o espírito e encontrar o caminho de volta.

Preste atenção. Se você está cheio de barulho dentro de si, se seus pensamentos já não são mais seus e sim uma mistura daquilo que ouve, engole e não digere todos os dias; se seus sentimentos estão todos embaralhados e da boca só poderia sair desespero e desesperança, se seu amor-próprio ficou tão reduzido a ponto de só falar de suas carências, se tudo o que você quer é rastejar por mais uma chance, suplicar por mais uma mudança… então cale-se. Saia de cena e espaireça um pouco. Apenas respire… Conte até dez, tome um café, desligue o celular, não abra o laptop. Fácil não é. Qualquer nova escolha requer tempo para tornar-se hábito. E você precisa aprender a se resguardar. A diminuir o foco sobre si mesmo.

Porque são tempos difíceis. Todo mundo fala, todo mundo posta, todo mundo curte. Todo mundo aparece_ de frente, de perfil, de costas, sorrindo, triste, indignado. E então você percebe que ser #todomundo não é sua praia. E sente falta do tempo em que as coisas eram mais simples.

Suportar o próprio silêncio _ quando tudo o mais já foi dito_ e sair de cena pra vida continuar, é quase como curar-se de um vício. Mais ou menos como engolir o choro, do jeitinho que você fazia quando era pequeno e seu pai vinha com aquela: “Engole o choro!” lembra? Então você engolia e ele descia engasgado, duro dentro do peito.

O que seu pai queria é que você tivesse autocontrole, entende? E é isso que você precisa agora pra seguir em frente quando tudo o mais virou equívoco. No fundo, no fundo, o que a gente gostaria é que nosso silêncio fosse produtivo, que gerasse bons frutos (do jeito que a gente imagina serem “bons” os frutos…). Mas e se na verdade quem deveria mudar fosse você? E se o silêncio viesse pra lhe ensinar e não “comunicar” apenas aos outros?

Então anote: Autocontrole e silêncio. E se está difícil ter autocontrole, se sua vontade é pegar o telefone agora e discar aquele número fatídico, se sua mão coça de desejo de postar um álbum de fotos no facebook ou no instagram, se as mensagens não param de chegar no celular exigindo uma resposta… apenas respire. Respire e ore, respire e durma, respire e disque outro número, respire e desvie o foco.
Desaprendemos a seguir o conselho de nossas mães porque o mundo mudou. E de tanto desobedecer, nos tornamos reféns da ansiedade, do imediatismo, do “tudo ou nada”, do “agora ou nunca”. E agora precisamos de um aplicativo que nos salve de nós mesmos. Ontem descobri que já existe_ chama-se “Self-control”. Ideia genial, diga-se de passagem. Porque no fim das contas, autocontrole é raridade. E contar com um aplicativo que faça como seu pai, que lhe mande “engolir o choro” e o ajude a reencontrar aquele que hoje se mistura ao #todomundo, é encontrar um tesouro. Procure, baixe, aprenda, use. Shhhhh… E Boa sorte!

Imagem de capa: Syda Productions/shutterstock

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Fabíola Simões

Escritora mineira de hábitos simples, é colecionadora de diários, álbuns de fotografia e cartas escritas à mão. Tem memória seletiva, adora dedicatórias em livros, curte marchinhas de carnaval antigas e lamenta não ter tido chance de ir a um show de Renato Russo. Casada há dezessete anos e mãe de um menino que está crescendo rápido demais, Fabíola gosta de café sem açúcar, doce de leite com queijo e livros com frases que merecem ser sublinhadas. “Anos incríveis” está entre suas séries preferidas, e acredita que mais vale uma toalha de mesa repleta de manchas após uma noite feliz do que guardanapos imaculadamente alvejados guardados no fundo de uma gaveta.

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