Você não escolhe quem ama, mas pode escolher quem vai deixar de amar.

A verdade é que o amor vem de não sei onde, sem por quê, veloz ou sorrateiro e se instala, muitas vezes sem nos darmos conta. Parece que não temos controle sobre as razões do coração, tampouco escolhemos as direções do poder de atração de certas pessoas sobre nós. Mesmo assim, após experenciarmos a forma como o outro entra em nossas vidas, bem como o que ganhamos ou perdemos a partir desse encontro, deveremos estar prontos para agir acertadamente em relação à manutenção ou não desse alguém junto de nós.

De início, quando a paixão parece minar qualquer controle sobre nosso discernimento frente ao que o outro traz junto com ele, acabamos por supervalorizar suas qualidades, as quais se sobrepõem às falhas, àquilo que no parceiro nos incomoda. E assim vamos tentando, de novo e mais um pouco, pois temos esperança de que receberemos em troca o tanto que nos doamos, torcendo para que dê certo.

Difícil é perceber quando já tentamos demais, quando nada mais parece surtir resultado, quando os erros se repetem além da conta. Difícil é encarar de frente tudo o que se fez ou se deixou de fazer, tudo o que se disse ou se calou, tudo o que foi exposto, aniquilado, roubado, usado, todas as mentiras, os fingimentos, os silêncios ensurdecedores. Porque dói a constatação de que tudo o que sonhamos e construímos não tem mais futuro.

Ninguém quer dar errado na vida, seja no trabalho, na família, nas amizades. Queremos ser alguém que deu certo, que venceu e conquistou o que queria. Muitos de nós vemos a falência amorosa como a pior de todas as decepções que podemos carregar, uma vez que a separação leva junto com quem se foi muito de nossa força e de nossa autoestima. O que resta, de início, é tristeza, desalento e uma sensação amarga de derrota.

Além disso, ponderarmos sobre o relacionamento que estamos mantendo, sobre as perdas e ganhos que ele vem trazendo às nossas vidas, não depende somente do que realmente queremos, pois, à nossa volta, deparamo-nos com as opiniões e os julgamentos dos familiares, dos amigos, da sociedade enfim, o que pesa muito nessa questão. Mantermos a lucidez nesses momentos requer que nos desvencilhemos de todas as cargas afetivas que nos amarram e nos vinculam ao parceiro. Trata-se de uma tomada de decisão solitária e cruel.

Estaremos sempre sujeitos aos términos indesejáveis dos relacionamentos em nossa vida, haja vista que o para sempre pode, sim, acabar um dia ou outro. É preciso, pois, que estejamos dispostos ao enfrentamento de tudo o que não deu certo em nossa caminhada, de modo a nos libertarmos daquilo que se tornou peso inútil, desenterrando diariamente os sonhos e ideais que se perderam por entre as algemas de um cotidiano frio e desarmônico.

E, no final das contas, ninguém há de negar que, por mais que doa, desistirmos de qualquer pessoa, de qualquer situação, de qualquer amarra afetiva, em favor de quem somos e de nossa felicidade, será sempre a melhor decisão a ser tomada. Porque desistirmos de nós mesmos seria condenarmo-nos à morte em vida e viver será sempre a nossa maior vitória. Sempre.







"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.