Sou da época em que as coisas eram feitas para durar, inclusive o amor

Olhando ao nosso redor com um pouco mais de atenção, percebemos que todos parecemos estar passando pela vida sem olhar à nossa volta, sem sair de nós mesmos, de nosso mundinho egoísta e apressado. Não dispomos de tempo, tampouco de disposição, para relaxar e prestar atenção no que ocorre além de nós, no que vive lá fora, tão perto, mas tão longe.

A tecnologia avança num ritmo frenético, a ponto de tornar obsoletos produtos recém-lançados, promovendo o consumismo desenfreado de objetos que cairão em desuso dali a pouco. Tudo, aliás, parece ter duração curta: as músicas, os artistas, os eletrodomésticos, as roupas, os produtos, e, infelizmente, os sentimentos acabam entrando nesse rol material, perdendo em muito sua essência humana.

Talvez porque as pessoas confiavam mais umas nas outras, quando o mundo não era tão competitivo, ou porque se preocupavam menos com a necessidade de possuir itens que carregassem status, fato é que antigamente éramos mais amigos uns dos outros. Vizinhos conheciam-se e relacionamentos duravam, resistindo ao tempo e ao espaço, tudo isso sem internet. Os sentimentos tinham longuíssima duração, pois moravam em nós.

Hoje não se retém nada por muito tempo, nem conhecimento, nem objetos, nem convicções, muito menos pessoas. Por isso mesmo, é triste assistirmos ao vai-e-vém dos relacionamentos fugazes e superficiais, haja vista a desistência precoce do continuar lutando junto de alguém. Poucos persistem na manutenção do amor em suas vidas, desistindo tão logo surge o primeiro problema a ser enfrentado.

Uma coisa é descartar objetos, outra muito diferente é o descarte de pessoas. Sim, muitos de nós descartamos de nossas vidas, num piscar de olhos, quem não nos agrada em algum aspecto, bloqueando pessoas no Facebook e na vida. Porém, nenhum relacionamento está isento de adversidades e de discrepâncias, ou seja, caso não lutemos pelas pessoas que estão junto de nós, perderemos todas elas pelo caminho.

É preciso deixar morar em nós o amor que sentimos pelas pessoas, para que possamos nos tornar mais dispostos a ser gente, a viver além do eu, mais solidários e mais felizes, capazes de enxergar e valorizar quem está ao nosso lado com verdade. É preciso humanizar-se, sentir, compadecer-se, cultivando a gratidão junto a todos que fazem parte de nossas vidas e a tornam mais gostosa de se viver.

O mundo necessita de mais tempo longe das preocupações e atribulações diárias. As pessoas precisam parar para refletir sobre o que vêm fazendo de suas vidas e o que vêm sendo na vida de quem está ali ao lado. Sem essa reflexão contínua, vamos nos robotizando, endurecendo nossos corações e nos tornando fechados aos encontros afetivos que alimentam a nossa essência mais humana.

Viver sem cultivar o amor nem vale a pena, no final das contas. Sem amor, não teremos a chance de chegar ao fim da vida munido de lembranças doces e mágicas, que nos darão força contra a solidão. Sem praticar o amor, tudo se torna frio e insosso, porque, sem amor, sobrevive-se, mas sem viver de verdade.







"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.