Sobre sentimentos camuflados e trincheiras íntimas

Imagem de capa: Nikolay Bassov/shutterstock

Não quer dizer sim. Talvez quer dizer não sei. Sim quer dizer sim, estou livre para escolher. São muitos códigos, alguns sem lógica alguma, criados para não serem jamais decifrados.

Vivemos uma longa lista de sentimentos camuflados, entrincheirados, na tocaia, aguardando um momento de trégua para enfim, partir para a exposição.

Somos preconceituosos com nossos sentimentos. Somos antiquados. Somos reféns da opinião alheia, da aprovação dos chegados, da benção da família, do vizinho, da time line.

Curiosidades e emoções brotam fora da lógica de qualquer um, ganham vida nos devaneios e sonhos de realização. Mas, como não se enquadram nos padrões, acabam por se refugiar na trincheira dos segredos, alertas para não serem descobertas ou traídas por uma palavra, gesto ou olhar.

Lidar com esse time de intrusos que ameaça a normalidade das coisas é tarefa que exige coragem. Mandar embora sem tentar entender razões, pode ser uma porta escancarada para a entrada de frustrações pesadas. Negar, rejeitar, despachar, varrer… Cada um certamente sabe o que fazer com o que aparentemente não lhe cabe.

Preocupante é condenar ao descarte por razões externas. Por que não saber o que está de fato rolando com esse sentimento que a gente nem desconfiava que pudesse existir? Pode ser o surgimento de outro olhar para a vida, pode ser um tiro na água, pode ser qualquer coisa, mas certamente será mais um aprendizado na jornada do autoconhecimento.

Se conhecer é experimentar liberdade, é saber de si e ter consciência de que ainda há muito para conhecer. É usar espelho próprio e não o do outro, saber dos padrões, mas não usá-los como correntes.

Todo mundo guarda sentimentos camuflados e escondidos, velados, platônicos. Não mexer com eles é escolha. Vivê-los e arriscar o caminho desconhecido, também é escolha.

A escolha é sempre livre, soberana. Cabe a cada um decidir quando é a hora de tirar a camuflagem e declarar o fim da guerra interior.







Administradora, dona de casa e da própria vida, gateira, escreve com muito prazer e pretende somente se (des)cobrir com palavras. As ditas, as escritas, as cantadas e até as caladas.