Sobre casas e corpos

A melhor morada de alguém é seu próprio corpo. Cuidar-se bem é, antes de tudo, cuidar de seu lar. Esse conjunto de carne, ossos, pele e músculos é o que abriga nossa alma, nosso ser. A casa mais linda do mundo para se viver é dentro de si mesmo.

Um bebê em formação é uma casa em construção. Quando surge o desejo dos pais, a casa está na planta. Quando já existe no ventre da mãe, erguem-se as paredes. Na infância, a casa é mobiliada e decorada. Vida adulta, casa pronta! Mas não para sempre. Há que se reformar e redecorar de tempos em tempos para manter a qualidade do aconchego.

Como toda boa casa, o corpo necessita de cuidados. Faxina externa: tomar banho, manter cuidados com pele, cabelos, unhas e dentes, praticar exercícios. Essas ações garantem boa apresentação da estrutura do seu “prédio”.

Faxina interna: aprender a perdoar, fazer terapia, manter a autoestima em alta, meditar, refletir, conhecer-se e amar-se são ações que garantem a beleza na decoração do seu “ambiente interno”.

Em qualquer casa que se preze, amigos são muito bem-vindos, enquanto estranhos ou desafetos sequer são convidados. O corpo segue a mesma lógica: sentimentos bons devem ser sempre atraídos. Quanto aos inimigos de nossa alma, melhor deixá-los do lado de fora. O dono da casa escolhe quem entra. Visitas indesejadas a gente dá um jeito de despistar no portão.

Guardar-se para os íntimos é uma das atitudes mais sábias. Não expor o interior do lar para estranhos é vital. É preciso, antes, dar-lhes a chance de conquistarem a confiança necessária para que a porta seja aberta.

A casa da alma é algo precioso demais. Por isso mesmo, precisa de proteção. Agora, quando houver convidados dignos de acessarem sua morada, receba-os bem. Mostre às visitas o que seu lar tem para oferecer. O coração é um ótimo lugar para recepcionar pessoas queridas. Perfeita sala de estar e de permanecer.

Cuidar, com extremo carinho, da própria casa é muito importante. Igualmente importante é cuidar da casa dos outros como se fosse sua. Você também precisa ser digno de confiança para entrar no lar alheio. Quando for sua vez de visitar, procure não invadir. Colocar-se no lugar do outro é a cura para muitas mazelas do mundo. Seja você a visita que espera receber.

Sobre casas e corpos, percebo que ambos não fazem sentido sem um morador. Os dois não passam de carcaça. É o que está dentro deles que faz a diferença. E, em ambos os casos, o que está dentro é a vida. E a alegria dessas vidas é o que transforma qualquer casa em um lar.







Educadora com formação em Letras Português/Inglês e foquei minha carreira na alfabetização durante quinze anos. Porém, um câncer de boca (localizado na língua) me afastou da sala-de-aula e me fez descobrir o dom que adormecia em mim: a escrita. A doença me deu tempo e uma história para contar. Resolvi registrar no papel como o câncer me curou, transformando-me em alguém melhor. Assim nasceu o livro Impactos do Câncer, que foi lançado no final de 2015. Desde então, sigo escrevendo sobre o que meu coração manda, porque sinto que é essa a contribuição que sei deixar para o mundo.