Serendipity: Confie no poder de conspiração do Universo

Dia desses revi uma comédia romântica no Netflix e, mesmo que eu já conhecesse o enredo, por ter assistido ao filme no cinema com meu marido em 2001, me surpreendi com o significado de uma palavra que define o filme, e que é pouco conhecida aqui no nosso país. A palavra Serendipity, de origem inglesa, significa “feliz acaso” e poderia explicar a sorte de encontrar algo precioso que não estávamos procurando. No filme, intitulado “Escrito nas estrelas” em português, Sara Thomas (Kate Beckinsale) espera que o universo conspire a favor dela e confirme seus sentimentos por Jonathan Trager (John Cusak). Para isso, ela desafia as possibilidades reais de um reencontro com aquele que seria seu escolhido e espera que o acaso _ ou “Serendipity” _ os aproxime. Ela diz que se eles tiverem que ficar juntos, eles encontrarão o caminho de volta para a vida um do outro.

Há tempos carrego comigo uma curiosidade acerca das coincidências, sincronicidades ou acasos que permeiam nossas vidas, como se o Universo confirmasse ou desconfirmasse nossas ações e desejos. Já falei disso aqui quando contei que minha casa me achou, num dia em que me perdi voltando do shopping e me deparei com a casa à venda, aberta a visitas. Eu tinha acabado de dar à luz, e tinha ido ao shopping comprar um vestido para o casamento do meu irmão. Perdida, ansiosa para retornar ao meu apartamento, tive o impulso de descer e conhecer a casa. Porém, não tinha a intenção de me mudar! Anos depois, quando decidimos deixar o apartamento e ir para um lugar maior, me lembrei do fato e voltamos à casa. Estava desocupada, e compramos. Se isso não é um “feliz acaso” ou “Serendipity”, não sei o que é!

Dizem que a invenção do Post-it foi assim, do mesmo modo que a descoberta da Penicilina e o “encontro” da América por Colombo. O que nos leva a crer que na vida precisamos andar atentos e abertos à interferência do acaso, dando vazão à intuição e entendendo que às vezes o Universo conspira a nosso favor, modificando e alterando nosso curso nas entrelinhas da rotina, muitas vezes contrariando aquilo que realmente buscamos. Ele nos mostra possibilidades novas e muitas vezes lindas durante os desvios de rota ou pequenas tempestades que atravessamos.

Às vezes você está atravessando um período tenso de sua vida, e no meio do caos você não enxerga os “felizes acasos” que estão ocorrendo. É como quando você se perde no trânsito, e o desvio de rota lhe conduz a um mirante lindo, com vista para a praia. Você pode decidir que aquilo foi uma benção, descer do carro e apreciar a vista, ou pode se lamentar e perder a oportunidade que o Universo lhe dá. Do mesmo modo nos relacionamentos. De vez em quando focamos tanto em nossas vontades, em nossas intenções, que não percebemos aquilo que o Universo quer nos comunicar. Os imprevistos da vida podem ser grandes bênçãos se a gente deixar.

Conheci meu marido em 1997, no meu primeiro local de trabalho. Eu não tinha ideia do conceito de Serendipity, e desconhecia os sentimentos dele por mim. Mas algo me dizia que aquele olhar terno que me cumprimentava cordialmente pelos corredores do Centro de Saúde carregava um brilho diferente, até mesmo mágico. A minha intuição se confirmou três anos depois, quando ele me chamou para sair e confessou que há anos pensava em nós dois. Nos casamos um ano depois, e lá se vão dezessete anos. Tenho certeza que estava “escrito nas estrelas”, e por mais que tivéssemos tido relacionamentos anteriores, cujos términos nos trouxeram grandes sofrimentos, foi um “feliz acaso” termos ido trabalhar no mesmo local, e estarmos abertos aos sinais.

Sinais… É muito importante estarmos atentos aos sinais. E para isso é necessário olhos atentos, ouvidos perspicazes, coração puro e mente aberta. Os “felizes acasos” acontecem para quem sabe reconhecer oportunidades em qualquer casualidade, e para quem consegue atribuir sentido às pequenas coincidências do cotidiano. Não precisamos achar que o Universo só irá conspirar a nosso favor se encontrarmos o nome de nosso amado escrito numa nota de um dólar, mas podemos sim reconhecer pequenos sinais que nos aproximam ou desviam de nosso caminho, mostrando que nem tudo é regido pelas nossas vontades ou intenções, mas que, ao contrário, há coisas que ninguém explica. Elas simplesmente acontecem, aleatoriamente, livremente, e nos conduzem a um lugar novo, muitas vezes melhor.

Finalmente, temos que reconhecer o poder de nossos sentidos. O poder que uma canção, um pôr do sol, uma refeição… tem de nos mobilizar e nos aproximar daquilo que precisamos aprender. Quanto mais sensíveis somos, mais atentos ficamos à letra de uma música, à beleza de uma paisagem, ao sabor de um prato. E isso nos torna mais intuitivos, mais sincronizados com a eternidade, mais aptos a reconhecer os presentes de Deus em nossas vidas. Às vezes você liga o rádio do carro e, justamente naquele dia em que precisa de uma resposta, toca uma música significativa. Vai á padaria, e enquanto está na fila, sente um perfume conhecido. Abre um livro e encontra uma solução nas entrelinhas. Você pode chamar de um amontoado de coincidências ou de oportunidades que o Universo lhe dá. Cabe a você ignorar os sinais ou, atento às descobertas felizes que ocorrem quando você não está procurando, chamar de “feliz acaso” ou Serendipity…

Imagem de capa: Divulgação do filme “Serendipity”

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Escritora mineira de hábitos simples, é colecionadora de diários, álbuns de fotografia e cartas escritas à mão. Tem memória seletiva, adora dedicatórias em livros, curte marchinhas de carnaval antigas e lamenta não ter tido chance de ir a um show de Renato Russo. Casada há dezessete anos e mãe de um menino que está crescendo rápido demais, Fabíola gosta de café sem açúcar, doce de leite com queijo e livros com frases que merecem ser sublinhadas. “Anos incríveis” está entre suas séries preferidas, e acredita que mais vale uma toalha de mesa repleta de manchas após uma noite feliz do que guardanapos imaculadamente alvejados guardados no fundo de uma gaveta.