Se não for por amor, nem saio da cama!

Amar é prática sem defesa, sem peso, sem ataque. Fazer amor. Morrer de amor. Ter amor à arte. Amar porque sim. E por que não?

Só aqueles que não temem o atrevimento de sentir, e conseguem dedicar parte de seu tempo a olhar para o que sente o outro, são minimamente capazes de vestir o amor em suas vidas.

É… pois é! Amor é algo que se veste, e que não se pode despir. É preciso intenção forte para moldá-lo ao nosso corpo e espírito, ainda que em alguns dias, seja esse mesmo amor aquela saia que nos ajusta em demasia, ou aquela camiseta cuja etiqueta áspera nos corta a pele.

Amor é seda pura que acaricia, mas também é lã acrílica que pinica. E, muitas vezes, nos cabe a seda indefesa em dias gelados, assim como a lã opressiva embaixo de quarenta graus à sombra.

Amar é aceitar o imprevisível e entregar-se às dúvidas. Não cabem certezas no ato de amar, justamente porque ele depende visceralmente da nossa capacidade de acreditar naquilo que não se vê, raras vezes se toca além dos dedos, mas enche a vida de sabores doces, e ácidos, e indescritivelmente perturbadores.

Ama-se apesar de. Ama-se os filhos, e filhas apesar de serem criaturas absolutamente livres e descrentes de nossas mais criativas preocupações. Ama-se os gatos, apesar de sua independência e indiferença concreta acerca de nossas carências. Ama-se a vida, apesar de não se ter quase nenhum controle sobre o seu destino.

Amar é mesmo verbo transitivo direto. Mas haveríamos de encontrar uma outra denominação para seu complemento que não fosse algo tão material quanto o é um objeto direto? Será culpa da Gramática essa nossa falta de jeito para o amor? Será por isso que teimamos em coisificar a quem amamos, como se pudessem ser possuídos como uma peça de coleção, uma joia ou uma recompensa?

Amar só faz sentido se estivermos de fato e completamente envolvidos nessa missão insana e deliciosa de acolher no peito uma outra alma. Proteger sem possuir. Entregar afeto sem passar recibo. Confessar-se atraído sem aprisionar. Dedicar-se sem sufocar. Ligar-se sem depender.

Se não for por amor, nem saio da cama. Se não for amor, nem me mexo… Fico imóvel, inerte e silenciosa. O amor me deixa barulhenta por dentro, me faz querer mais da vida, me dá apetite, força, coragem e gentileza.

Amor, pode até ser essa palavra dissolvida em versos de poetas, em canções fluídas na beira de um lugar qualquer. Mas, no fundo, no raso ou na superfície da nossa pele e alma, amor é tudo! E sem ele, não somos absolutamente nada!

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “Desculpa se te chamo de amor”.







"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"