De repente não era amor
“Querido filho, se não fizer o que eu quero, eu não te amo mais. Amado, se você não me levar para jantar fora hoje, eu não te amo mais. Prezado amigo, se você não me curtir nas redes sociais, eu não te amo mais. Irmã, se você não aparecer aqui em casa hoje, eu não te amo mais. Namorado, se você não atender ao telefone, eu não te amo mais. Amante, se você não se deitar comigo, eu não te amo mais. Colega, se você não concordar com o que eu digo, eu não te amo mais”…

São tantas as desculpas para o não amor. E quem desprevenido acredita nelas pode ser levado a crer que o amor é algum sentimento tirano e mesquinho que exige servidão e préstimo. Algum sentimento egoísta e incerto que se desfaz em um piscar de olhos.

No dicionário define-se amor como uma forte afeição e nada se diz a respeito de existir alguma razão para amar. E ela realmente não existe.

O amor é longo. Um traço forte e contínuo a perder de vista. O amor nunca é razão. A razão no amor é o levantar do lápis, é o romper da linha contínua, é a ruptura efêmera que desalinha nossa escrita.

O amor não busca porquês, o amor não vive fundamentado em reflexos instintivos. O amor não é ponto. O amor é uma larga sentença repleta de intimidade.

O amor não cobra. Ele se alimenta da beleza que é e não sobrevive de expectativas. O amor não é interesseiro. O amor nunca aguarda retribuição. O amor não se empresta, ele se dá por inteiro.

Enumerar o amor em uma lista de razões pelas quais se ama é fazer o amor sangrar.

O amor não é lapso, ele ignora que existe hoje no mundo uma dinâmica que por vezes subverte a ideia de amar.

O amor não se finca em palavras ensaiadas. Ele é modesto e mora em olhares profundos e atitudes verdadeiras. O amor sobrevive de ações sinceras e não se exalta. O amor não grita e não exige méritos.

A obrigação no amor é o não amor puro.

O amor é para sempre e não até o dia em que, largo como é, não cabe em alguma aspiração.

O amor nunca deve. O amor tem em si o nosso melhor. O amor é bondoso. O amor é complacente. O amor nunca busca parecer, ele simplesmente é.

Vislumbrar a amplitude do amor em um meio onde existe um escambo supérfluo de ações, não é fácil.

Contudo quando alguém disser do amor e fizer exigências para nos amar, não devemos hesitar em dar um passo atrás. É desse jeito que nos afastamos do engano e de suas breves verdades.

E quando nos restar um fio de dúvida, façamos calar o mundo para ouvir o coração. Ele sabe reconhecer o amor que nos toca a alma na compreensão bonita de que amanhã podemos sempre um pouco mais.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.







Vanelli Doratioto é especialista em Neurociências e Comportamento. Escritora paulista, amante de museus, livros e pinturas que se deixa encantar facilmente pelo que há de mais genuíno nas pessoas. Ela acredita que palavras são mágicas, que através delas pode trazer pessoas, conceitos e lugares para bem pertinho do coração.