Se a esperança for embora, peça com amor que ela volta.

Não tem jeito. A vida vai ser sempre esse bate e assopra sem fim. Esse jogo marcado em que a gente apanha, cai, levanta e finge não saber que continua desabando. Finge não notar que está em queda livre e que, se não correr mais, não trabalhar mais, não levantar mais cedo, se não tentar mais forte mudar de ares, de rumo, de planos, de emprego, em breve vai se esborrachar lá embaixo.

Você sabe. Este mundo vai cada vez mais caro e a lógica é simples: se a gente não faz nada além do que se habituou a fazer, a gente ganha cada vez menos e vive cada vez pior. É triste, mas a vida se dividiu entre os que precisam trabalhar cada vez mais e os que se dispõem a pagar cada vez menos. Isso é coisa que a gente ignora, deixa pra lá, muda de assunto para não tornar o dia insuportável, mas é assim que é.

A gente segura a onda, faz o que pode, o que gosta, mantém a dignidade, empurra na subida um caminhão carregado de pedra, sabendo que se o soltar um segundo ele volta e nos atropela primeiro. Mas é duro. Tem dia em que a esperança fecha a loja e pendura na porta um aviso: “saí, não sei se volto”.

Só Deus sabe como é duro fazê-la voltar. Esperança quando vai embora é fogo. Só retorna com garantias. Faz exigências, requisita fiadores, reivindica proteções. Quem perde a esperança vive num mato sem cachorro, um chove-não-molha, uma indecisão brutal, uma fraqueza na alma, um sei-lá-o-quê dolorido que só.

Resgatar a esperança é um gesto de bravura extrema. Requer presença de espírito, força de vontade e uma vigorosa fé de que o amor, ele mesmo, ainda resta escondido em algum lugarzinho perdido dentro da gente. Se tiver amor, é metade do caminho andado. O amor é um cão farejador. Exímio especialista, bicho experimentado nas artes de resgatar a esperança perdida.

Para sentir esperança de novo é preciso sentir amor. Assim, sem mais, sentir amor. Sentir amor por alguém, por um ofício, uma causa, uma ideia, uma lembrança. Sentir amor por si mesmo. Sentir amor. A vida só persiste porque ainda há amor pulsando entre nós. Sentir amor nos fortalece, alimenta, liberta, nos revive e nos leva adiante tanto quanto o ódio nos consome, nos amarra e enfraquece. Sentir amor é o caminho para retomar a esperança nos braços.

Quando tem amor, você acorda num dia frio, em casa, percebe a sua gente ali, do seu lado, e se dá conta de que empurrar o caminhão ainda vale a pena, paga todo o esforço. E que sentir amor pelos seus é a mais alta e mais completa fortuna do ser humano.

Com amor a esperança volta. Ela volta assoviando uma canção tão linda, mas tão linda que deve ter sido feita pelo próprio São Francisco de Assis de manhã, rindo de olhar seus bichinhos correrem um atrás do outro no paraíso.

Ela volta, reabre a loja e anuncia numa faixa enorme, colorida e generosa: “voltei! Não vou embora mais não”.







Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.