Quantas vidas cabem na vida que te cabe?

Antes de decidir dar um basta em nossa antiga vida, minha esposa Melissa e eu passamos por um longo processo de reflexão. Não foi fácil “puxar o gatilho”. Precisamos de muita inspiração. E tal inspiração veio de fora. Lemos blogs, livros, assistimos muitos e muitos vídeos, pois nossos amigos e conhecidos não estavam na mesma sintonia.

Um desses vídeos, em particular, foi marcante para mim. Um americano, um tal de Scoot Dinsmore (foto de capa da matéria), deu uma palestra altamente inspiradora no TED. Ele havia criado uma comunidade com milhares de seguidores. E criou um negócio milionário a partir dessa comunidade. O que ele fazia? Ajudava as pessoas a encontrarem o trabalho que amavam. E o fazia muito bem. Em seu site, disponibilizava uma porção de ferramentas interessantes para ajudar qualquer um a encontrar seu caminho na vida. Contabilizava com orgulho o número de pessoas que haviam pedido demissão depois de conversar com ele.

Scott decidiu passar o ano de 2015 viajando com sua esposa Chelsea. Venderam tudo o que tinham em São Francisco, nos EUA, e saíram pelo mundo. O objetivo era encontrar pessoalmente as pessoas que formavam sua comunidade. Passaram pela América do Sul, América Central e Europa.

Há cerca de um mês, decidiram desviar o roteiro para a Tanzânia, pois Scott tinha um sonho antigo de escalar o Monte Kilimanjaro, o mais alto da África. E, numa perversa ironia, foi justamente realizando um de seus sonhos que ocorreu uma tragédia. Durante a subida, uma rocha caiu e atingiu Scott, que faleceu ali, aos 33 anos de idade.

Scott deixou um legado maior que sua própria vida. O mais curioso sobre Scott é que ele criou tudo isso sem ser uma figura especial. Não tinha uma aura intelectual, não parecia um ser iluminado, um guru. Ao contrário, ele era bem normal, e falava constantemente de seus defeitos. Isso transmitia uma mensagem clara e importante para mim: “Se ele conseguiu, por que eu também não posso?”.  “Encontrar” o Scott foi decisivo para puxar o gatilho, abandonar Brasília, e me mudar para Montevidéu.

Eu havia trocado algumas mensagens com ele, mas não era alguém próximo a mim. Mesmo assim, quando soube, fiquei em estado de choque. Foram dois dias até acalmar o coração. Tinha vontade de conhecê-lo pessoalmente. Ele havia feito uma diferença enorme na minha vida.

Milhares de pessoas lamentaram sua morte tão prematura. Mas eu ficava pensando como deve ter sido para sua mulher, que tinha planos de uma vida inteira com ele, enfrentar todo o sofrimento de uma perda tão repentina e inesperada. Há alguns dias, Chelsea, enviou um e-mail para a comunidade do Scott. Um e-mail tão belo, que gostaria de compartilhar um trecho que me tocou bastante:

“Não há palavras que possam descrever totalmente a descrença que eu ainda sinto, a dor de acordar todas as manhãs, e a incerteza na vida que eu tenho à minha frente. […] Mas, se há uma coisa que eu aprendi mais e mais durante a nossa viagem, é que nós somos muito mais fortes do que pensamos. Se alguém tivesse me dito que isso ia acontecer, eu iria me trancar em um quarto escuro e nunca mais sair. Mas a resiliência do espírito humano me surpreendeu. Em vez de mergulhar nas profundezas do que eu não tenho, eu estou agarrando-me ao que eu tenho.”

Eu, quando passo por situações de perda, costumo pensar sobre a minha própria vida. E foi isso que fiz quando soube da morte do Scott. Acho que não há como passar pela vida sem problemas, conflitos, desgostos e, até, pequenas ou grandes tragédias que nos atingem ao longo de nossa estadia nesse planeta.

Mas passamos… Sobrevivemos… E nos fortalecemos. Somos fortes para sair da cama todos os dias, por mais que seja difícil às vezes. Somos fortes para superar corações partidos. Somos fortes para levantar após cada queda, para recuperar tudo o que perdemos. Somos fortes para nos curar de doenças, até das que, há pouco tempo, eram incuráveis. Somos fortes para enfrentar as mais duras perdas.

E quer saber? Também somos fortes para enfrentar os nossos medos. Somos fortes também para bancar nossos sonhos, para arriscar, para corrigir nossos erros, para cair e levantar mais uma vez, e mais outra… Meu caminho e o do Scott se cruzaram no momento preciso, e eu agradeço a Deus por isso! Ele morreu aos 33 anos, e, como afirmou seu pai, viveu mais do que muita gente que carrega uma vida inteira nas costas.

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Bruno largou tudo, foi morar no Uruguai como a Melissa e o Martin, e criou o Blog Vida Borbulhante. Quer ter uma vida mais plena e interessante? Passe lá para conhecer. Curta o Blog no Facebook.







Bruno largou tudo, foi morar no Uruguai como a Melissa e o Martin, e criou o Blog Vida Borbulhante. Quer ter uma vida mais plena e interessante? Passe lá para conhecer. Curta o Blog no Facebook.