Quando uma tempestade emocional começa a se formar… o melhor que se pode fazer é desaguar!

Imagem: Eugenio Marongiu/shutterstock

Somos ensinados desde muito cedo a conter o que sentimos. A despeito das inúmeras movimentações em favor da liberdade de gênero, da humanização baseada na equidade e do empoderamento, há ainda meninas que são educadas para servir, agradar e obedecer; e há meninos que são educados para engolir o choro, ser o macho alfa e nunca fraquejar.

É preciso que a gente não se distancie do fato essencial de que, homem ou mulher, somos seres em infindáveis processos de construção e desconstrução; a vida está sempre a nos desafiar com perguntas inéditas, becos escuros, alegrias de tirar o fôlego, perdas inesperadas…

Poxa vida! Desde o nosso primeiro respiro, até o nosso último suspiro, nossos percursos terão sido tão diversos a cada dia – a cada minuto, até -, que seria um enorme desperdício se tentássemos nos resumir a uma única definição.

Há dias em que acordo mansa com uma disposição ilimitada de abraçar as dores alheias, pronta para ser resguardo de tantos quantos precisarem de mim. Mas há dias, em que acordo com a força de um furacão, não tenho parada, quero a falta de freio dos dias apaixonados, quero sair por aí. Nesses dias, não posso ser colo que acolhe, mas posso ser a mão forte que iça do buraco e tira da pequenez da dor aquele que se encolhe.

Assim sou e assim é você; a mãe que é só amor; o rapaz abandonado que é só saudade; a moça que acabou de descobrir em si uma beleza que lhe era negada; o idoso que se revela numa dança ou num encontro de amor; o bebê que depende cem por cento de cuidados; até aquele cão que foi abandonado porque não foi capaz de permanecer filhote. Somos tão mutantes quanto as lagartas que se transmutam em lindas borboletas ou apagadas mariposas.

Quem é que pode saber o que exatamente lhe reserva o dia, a semana, o mês, a vida? É de pedacinho em pedacinho de histórias escritas, rabiscadas e desenhadas que vamos nos descobrindo a cada pouco, a que viemos, o que nos move e o que nos rouba a vontade de prosseguir.

E se for dia de chuva mansa e miudinha, aproveitemos o solo fecundo para semear. E depois, aguardemos que o fogo do sol dos desafios que nos sacodem, faça florir o que um dia foi semente. E se uma tempestade emocional começar a se formar… o melhor que se pode fazer é desaguar. Deixar escorrer para fora e por todos os lados aquilo que já não se pode conter. Às vezes é preciso estar vazio para ser capaz de receber.

Depois de uma tempestade o ar fica menos denso, o céu se abre, até os escombros encerram em si alguma beleza. É nessa hora que acontece aquele intervalo mágico de trégua. Depois da tempestade a gente sabe que o pior já passou e que agora é erguer a cabeça, não de orgulho, mas de esperança, e abrir o peito para outras águas que certamente hão de nos visitar.







"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"