Quando bate aquela saudade

E quando bate aquela saudade? Dos sorrisos trocados, dos beijos concebidos e, até mesmo, dos silêncios contemplados numa noite qualquer. Pode até ser que o futuro seja um traçado sem previsão, mas tenho bem lá no fundo que o presente não passou despercebido entre um abraço e outro. Se tudo isso é indício de saudade, convenhamos, que sorte a nossa termos tido instantes distribuídos passado adentro.

Por que não ficamos? Por que não entregamos os pontos e arriscamos submergir nesse redomoinho tão almejado pelos amantes? Talvez não exista uma resposta em definitivo, quiçá alguma forma de mensurar probabilidades entre os carinhos expostos. Saudade tem gosto. É agridoce e em doses desmedidas, deixa até o mais saudável dos corações enfermo. Mas há outras facetas para essa ausência inesperada. Ela movimenta, navega e, algumas vezes, transforma. Desperta odores no meio do dia, revive, reencontro após reencontro, o entrelaçar compartilhado e a jura não dita. Ainda assim, é confuso imaginar por onde anda a nossa própria alavanca para desvencilhar-se. A proposta pontual de desejos trilhados, planos elaborados e angústias já tatuadas na pele. É bem um de tudo um pouco, para ser sincero.

Quem sabe, ou, quem poderia dizer, quais descaminhos nos seriam apresentados? A vida meio que lança esses dados atrozes quando menos esperamos. Isso não quer dizer que ela tenha essa finalidade vilanesca, pelo contrário, vai ver que as linhas descritas através do tempo, incluam, na mais imprevisível das hipóteses, a oportunidade da escolha. O simples pensamento do ir e vir, onde for, como for.

De qualquer forma, na saudade, sentir é o único caminho. E deixem que julguem, apontem e façam escárnio dessa intensidade não prometida. Porque, contrariando todas as expectativas, quantas vezes pudemos confessar a falta que nunca parte, mas apenas adormece? Agora, saudade é artigo de luxo para os que se permitiram sentir algo, em qualquer dia, em qualquer beijo.