Pra frente, volver!

Adoro quando estou na estrada e paro num restaurante com faixa na entrada avisando: Sob nova direção. Algum chip no meu cérebro diz: Melhorou. Deve ser por conta da força do adjetivo. Novo celular. Namorada nova. Apartamento novo. Vida nova.

É evidente que associar novidade à melhoria não passa no teste da razão. Pois o novo não é por obrigação mais vantajoso do que o antigo. O micro-ondas é muito mais novo do que o fogão, mas aquele não esquenta tão bem quanto este. A nova colega talvez não seja tão simpática e eficaz quanto a que se aposentou.

Volta e meia praguejamos contra novidades. Odiamos as ineficientes, as de curta duração. Ficamos fulos quando o plástico substitui o ferro e a civilização do durável dá passagem para o descartável. Mas talvez o novo seja irmão gêmeo da esperança: Emprego novo, nova crônica serão melhores.

Essa esperança é baseada no recorrente desejo de mudar. Dentro de nós também rola assim. Já perdi a conta de quantas mudanças experimentei. Várias deram errado. Em algumas, sem querer, troquei o razoável pelo ruim.

Mas a asa ferida não anula a vontade de voar. Fosse assim, as pessoas só se apaixonariam uma única vez. Jamais voltariam a escrever depois de um zero na redação. Em suma, não pularíamos nem da cama.

Emprega-se agora um verbo chique para a substantiva mudança: reinventar-se. Na minha opinião, apropriado.
Porque o reinventar-se pressupõe que você já se inventou antes. Abraçou o novo que depois envelheceu e você se animou para mais uma transformação.

Gostamos das transformações. Por exemplo, ao assistir a um filme no ponto em que a trama começa a chatear, ocorre uma virada. Descobrimos que o mocinho não é tão mocinho, ou que a mocinha não é ingênua. Nesse momento a história ganha novidade. Mas uma coisa é o cinema. Outra, somos nós.

Pessoas são mais complicadas do que personagens. Os pontos de virada da vida real nem sempre aceleram a cena. Às vezes até retardam o ritmo. Pois em nós não existe roteiro redondinho. Ele vem repleto de pontas soltas. Há a saudade do antigo e o desejo do novo. Grudados, o antigo e o novo nos reinventam.







Fernanda Pompeu é escritora especializada na produção de textos para a internet. Seu gênero preferencial é a crônica. Ela também ministra aulas, palestras e workshops de escrita criativa e aplicada. Está muito entusiasmada em participar do CONTI outra, artes e afins.