Portugal celebra 120 anos de Florbela Espanca

Portugal celebra 120 anos de Florbela Espanca Poetisa alentejana, nascida em 8 de dezembro de 1894, recebe homenagem em várias cidades portuguesas, com teatro, recitais de poesia e outras atividades

A poucos dias dos 120 anos de nascimento de Florbela Espanca, estudiosos, artistas e admiradores da arte prestam homenagem a uma das maiores poetas portuguesas. As principais programações ocorrem em Vila Viçosa, sua terra natal; Évora, cidade em que passou períodos ao lado do pai João Maria Espanca; e Matosinhos, cidade onde viveu com o terceiro marido, o médico Mário Lage, e morreu em 1930, no dia e na hora (2 horas da manhã) do seu aniversário de 36 anos.

Em Vila Viçosa, cidade onde ocorrerá a maior o homenagem, o aniversário será comemorado de 7 a 13 de dezembro, com atividades diárias que incluem a apresentação do solo de teatro Florbela Espanca – a hora que passa, com representação da actriz Lorenna Mesquita e encenação de Fabio Brandi Torres, ambos da companhia teatral brasileira Srta.Lô e integrantes do Grupo de Estudos Florbelianos, dedicado à pesquisa da vida e obra da poeta; além de lançamento de livro, exposição de quadros, reabertura da Biblioteca Florbela Espanca, palestras, recitais de poesia e oficinas de dramaturgia e interpretação realizadas pelo grupo brasileiro que retornou a Portugal especialmente para os 120 Anos de Florbela Espanca.

O evento é coordenado por Cristina Lopes, grande admiradora da obra de Florbela Espanca. Cristina fundou em dezembro de 2013, também na semana do aniversário da poeta, os Encontros Florbelianos, grupo que se reúne uma vez por mês em torno da vida e obra de Florbela, sempre a contar com pesquisadores e artistas que apresentam seus conhecimentos a respeito da poeta.

Em Évora, a poeta foi homenageada pelo Grupo Cénico da Sociedade Reacreativa e Dramática Eborense (SRDE), pela Srta.Lô e Grupo de Estudos Florbelianos. Juntos realizaram o Sarau Florbeliano com entrada livre e participação do público. Nos dias que antecederam o sarau, os grupos português e brasileiro também trocaram experiências e relataram suas pesquisas a respeito da poeta alentejana. Évora também recebeu uma sessão do solo teatral Florbela Espanca – a hora que passa, espetáculo que também será apresentado em Oliveira de Azemeis, neste sábado, 6, às 21h30, no auditório da Junta de Freguesia.

Em Matosinhos, Florbela Espanca começou a ser homenageada já no final de novembro. No último dia 26, o espetáculo Florbela Espanca – a hora que passa foi apresentado a alunos da ESAG e dia 29 na Casa da Alegria, no Porto. E de 7 a 9 de dezembro, Matosinhos prestará homenagem à poeta com a Festa da Poesia.

Em Oeiras, no dia 8, na Fundação Marquês de Pombal, haverá conferência de José Carlos Fernández, autor da biografia “Florbela Espanca: a vida e alma de uma poetisa”; no Parque dos Poetas, Jovens do Programa Transforma(TE) apresentam poemas de Fernando Pessoa e Florbela Espanca; e no Vila Gale Collection Palácio dos Arcos haverá o recital Inéditos de Florbela Espanca. A coordenação desse evento é de Severina Gonçalves, investigadora e editora dos seis poemas inéditos publicados em dezembro de 2013.

As comemorações pelos 120 anos de Florbela Espanca, encerram-se no dia 18 de dezembro, em Lisboa, com a apresentação do solo teatral Florbela Espanca – a hora que passa, às 21h30, no Teatro da Livraria Ler Devagar, na LX Factory. A sessão dessa noite contará especialmente com um piano de cauda, que será tocado pela actriz Lorenna Mesquita durante o espetáculo.

Programação

120 Anos de Florbela Espanca – Vila Viçosa

Organização: Encontros Florbelianos

Apoios: Agrupamento Escolar de Vila Viçosa, Biblioteca Florbela Espanca, Biblioteca da Universidade de Évora, Fundação da Casa de Bragança, Hotel Solar dos Mascarenhas, Santa Casa da Misericórdia de Vila Viçosa, Vicentinos de Vila Viçosa.

7 de Dezembro, 16.00H

Na exposição “Charneca em flor” iremos apresentar trabalhos da comunidade calipolense em torno do soneto Charneca em Flor, um dos mais emblemáticos da poesia Florbeliana, bem como dois quadros cronológicos da vida da poetisa provenientes da exposição “Os Espanca” inaugurada na Biblioteca da Universidade de Évora em Outubro deste ano. A Biblioteca Florbela Espanca terá ainda o grande gosto de receber neste dia Lorenna Mesquita e Fabio Brandi Torres com a apresentação do livro “Florbela Espanca – A hora que passa”, que depois da elaboração do monólogo com o mesmo nome foi a consequência lógica do exaustivo trabalho de pesquisa desenvolvido por estes criadores em torno da vida e obra de Florbela Espanca.

8 de Dezembro, 9.30H

Na manhã de 8 de Dezembro, data em que se comemora os 120 anos do nascimento de Florbela Espanca, será colocado um xaile, executado a várias mãos, no busto de Florbela, em frente ao Cine Teatro de Vila Viçosa. Com este gesto simbólico a comunidade calipolense pretende homenagear a sua poetisa e lembrar aos visitantes a estima que por ela nutrem e o reconhecimento do valor da sua obra. Às 18.00H será interpretado o monólogo “Florebela Espanca – A hora que passa” de Lorenna Mesquita e Fabio Brandi Torres na sala dos Encontros Florbelianos, no Hotel Solar dos Mascarenhas.

10 de Dezembro, 15.00H

“Quem se lembra dos Espanca” é o tema para um chá convívio no Hotel Solar dos Mascarenhas. Fotografias e postais de época, recordações vivas de alguns dos habitantes de Vila Viçosa que ainda conviveram com membros da família da poetisa farão as delícias de todos aqueles que sentem curiosidade e admiração por esta família singular.

9, 11 e 12 de Dezembro, 19.00/21.00H

Na sala dos Encontros Florbelianos, no Hotel Solar dos Mascarenhas, serão realizadas Oficinas de voz e de escrita criativa orientadas pela dupla criativa Lorenna Mesquita e Fabio Brandi Torres. As inscrições devem ser feitas por mensagem na página dos Encontros Florbelianos ou na recepção do Hotel Solar dos Mascarenhas

12 de Dezembro, 10.00H

Tendo Lorenna Mesquita, Fabio Brandi Torres e Francisco Caeiro como oradores convidados, realizar-se-á na manhã de 12 de Dezembro uma comunicação sob o tema “A poesia e as crianças”, no Auditório da Escola Públia Hortência de Castro. O público alvo serão os alunos do pré escolar e 1º ciclo do Agrupamento Escolar de Vila Viçosa.

13 de Dezembro, 20.00H

Jantar de encerramento do 1º ano de Encontros Florbelianos, no Hotel Solar dos Mascarenhas. São bem vindos neste jantar Florbeliano todos aqueles que simpatizaram e ajudaram na realização das tertúlias Florbelianas realizadas ao longo do ano de 2014, bem como todos os que admiram Florbela e o seu universo literário. Declamação de poesia, conversas em torno dos livros e novos rumos que o Projecto Encontros Florbelianos poderá tomar serão o contexto desta actividade, acompanhado de um saboroso e aconchegante jantar. Inscrições na recepção do Hotel Solar dos Mascarenhas ou por mensagem na página do Encontros Florbelianos.

contioutra.com - Portugal celebra 120 anos de Florbela Espanca

O Espetáculo 

Florbela Espanca – a hora que passa

O solo teatral brasileiro, da companhia Srta.Lô, está em sua segunda digressão por Portugal especialmente para a homenagem aos 120 Anos de Nascimento de Florbela Espanca. A primeira vez no País foi em março deste ano, no Dia Mundial da Poesia, em 21 de março, e percorreu 16 cidades em 40 dias.

No espetáculo, com direção de Fabio Brandi Torres, a atriz Lorenna Mesquita vive Florbela Espanca. Em sua última hora de vida, a poeta discorre sobre si mesma e questiona o papel da mulher na década de 20, com reflexões que ainda cabem para os dias atuais.

A montagem é resultado de um processo de pesquisa desenvolvida ao longo de três anos com o estudo da obra de Florbela Espanca e visita às principais cidades portuguesas em que a poeta viveu para conhecer de perto os ambientes e a cultura que a influenciaram.

[quote_box_right]“O melhor de todos os homens não vale um fanatismo, creia-me, e embora a nossa alma, com essa ânsia de amor, de ternura que canta sempre em nós, se lhes dedique completamente, que eles o não sai­bam nunca, que não suspeitem sequer!… Abdicando um grau da nossa realeza, teremos de descer sempre, sempre, até ao fim.

Ame doidamente alguém, mas nunca abdique nem uma só das suas graças, nem uma só das suas ideias que lhe fazem vincar a fronte às vezes com uma pequenina ruga de capricho e insolência, que fica tão bem às mulheres boni­tas; não ajoelhe nunca, porque está nisso o nosso grande mal, o nosso profundíssimo erro; nós invertemos muitas vezes os papéis, e em proveito deles, e depois as consequências são muitas vezes as paixões que devastam uma vida inteira por criaturas que se dignam dar, por último, como humilde mortalha, um olhar de compaixão!

Muitas vezes as nossas mais delicadas atenções, as nossas maiores provas de amor, os nossos cuidados, são como aquelas pérolas que um dia alguém atirou a uns porcos…

Guardar-me intacta, como um cristal transparente, pra quê? Eu não sou de ninguém!… Quem me quiser há de ser luz do Sol em tardes quentes… Há de ser Outro e outro num momento! Só na alma é que a lama não se apaga; aquela com que nos salpicam, sai com água limpa.”

Florbela Espanca[/quote_box_right]

O Processo

“Quando conheci as poesias de Florbela Espanca, o que mais me chamou atenção foi a sua intensidade. Ela parecia viver exatamente o que escrevia. Um misto de amor e de dor.

Eu me perguntava: Quem foi essa mulher que ousou naquela época, na década de 20, expressar os mais íntimos sentimentos? Por que ela se matou? Por que nunca estava satisfeita?

Intrigada, decidi ir atrás da sua história. Fui a Portugal e conheci as três principais cidades em que ela viveu: Vila Viçosa, Évora e Matosinhos. Visitei suas casas, o cemitério, as homenagens nesses lugares – bustos em praças, biblioteca, túmulo em destaque no cemitério -, além de Lisboa e Porto. Filmei cada passo no meu vídeo-diário de bordo. E lá, percebi que Florbela ainda não possui o reconhecimento que merece.

Até então, eu já tinha planejado montar um espetáculo que tivesse seus poemas como base, mas após ter contato com suas cartas, contos e diário, o texto que seria composto basicamente por uma desconstrução de suas poesias deu lugar às palavras de Florbela que mais expressavam sua forma de viver. O ponto de partida foi imaginar o que ela falaria para alguém exatamente uma hora antes de dormir e construir o texto como um fluxo de pensamento.

Ao reunir todo o material que acreditava não poder ficar fora de uma peça sobre Florbela, cheguei a uma dramaturgia que daria mais de três horas de espetáculo. Foi então que conheci o dramaturgo e diretor Fabio Brandi Torres em uma leitura de uma peça de Luis Eduardo de Sousa e o convidei para o projeto. Minha proposta para o Fabio era que com esse texto inicial descobríssemos juntos, na sala de ensaio, a essência do espetáculo. Fizemos experimentações de estudo de cena no festival de teatro Satyrianas e na Semana Florbela Espanca, que realizamos na Casa de Portugal de São Paulo.

Voltamos ao texto e o cortamos literalmente: usamos papel e tesoura como nas aulas de educação artística. E depois, com cola e papel, montamos um quebra-cabeça a partir das nossas descobertas. O resultado, para mim, é uma linda colcha de retalhos que me emociona sempre que a toco. Espero que tu te emociones também.” Lorenna Mesquita

Sinopse

Em sua última hora de vida, Florbela Espanca repassa sua vida, relembrando os principais momentos, sempre fazendo menções também à sua obra. Ela começa contando uma parábola sobre vida, morte e destino que ela escreveu inspirada num conto indiano. Em seguida, discorre sobre o que pensa a respeito da vida, suas angústias, amores e dores. Florbela apresenta-se como uma mulher angustiada e ao mesmo tempo forte, mostrando quem ela é como pessoa e artista e pede para que a aceitem, pois só assim poderão lhe ter amor. Diz que sua dolorosa experiência ensinou que ela é só e que por mais que se debruce sobre o mistério de uma alma, nunca o desvenda, que o amor não passa de uma pobre coisa banal, incompleta, imperfeita e absurda. Sente-se triste, abandonada e só, pois tem esgotado todas as sensações artísticas, sentimentais e intelectuais. Sente-se afundar. Por fim, tem esperança de que alguém ao ler seus descosidos monólogos, realize o que ela não pôde: conhecer-se.

Equipe de Criação

Fabio Brandi Torres é dramaturgo, tradutor, diretor e produtor teatral, desenvolvendo trabalhos com diversos grupos teatrais, como o Centro de Dramaturgia Contemporânea, Prosa dos Ventos, Folias D’Arte, Circo de Trapo, Cia Triptal, Cia dos Dramaturgos, entre outras. Seus textos foram dirigidos por Isser Korik, Iacov Hillel, Val Pires, Caco Ciocler, André Garolli e Rosi Campos, entre outros. Foi indicadoao Prêmio Shell de Melhor Autor, em 2005, e três vezes ao Prêmio FEMSA, em 2004, 2009 e 2013. Em televisão, foi roteirista das telenovelas Seus Olhos(SBT) e Paixões Proibidas (BAND / RTP), em colaboração com Aimar Labaki e Mário Viana. Tem um livro infanto-juvenil editado, O Tesouro de Fabergè, e teve a peça Um Conto do Rei Arthur premiada no Concurso Vladimir Maiakovski.

Lorenna Mesquita é atriz, escritora, jornalista e produtora cultural. Pesquisadora da obra da poeta portuguesa Florbela Espanca, foi responsável pela concepção e realização do monólogo Florbela Espanca – A Hora que Passa, que teve estreia em Portugal em 2014, em 21 de março, no Dia Mundial da Poesia, e percorreu 16 cidades portuguesas numa temporada de 40 dias. Em 2013, na semana de aniversário de vida e morte da poeta, realizou a Semana Florbela Espanca, na Casa de Portugal de São Paulo. Foram sete dias homenagens, com saraus de poesias, cartas, contos, diário e conversas com o público sobre o contexto histórico em que a poeta viveu. Na mesma época, deu início à produção de vídeos e áudios na internet para a divulgação da obra de Florbela Espanca.

FLORBELA ESPANCA

(8/12/1894 – 8/12/1930)

Poeta portuguesa da região do Alentejo, Florbela D’Alma da Conceição Espanca nasceu em 8 de dezembro de 1894, registrada como filha de pai desconhecido, mas educada pelo pai e pela madrasta em Vila Viçosa.

Os três casamentos fracassados, as desilusões amorosas e principalmente o suicídio do irmão Apeles Espanca, durante um voo de treino sobre o Tejo, em 1927, marcaram profundamente a vida e a obra de Florbela Espanca.

Em dezembro de 1930, agravados os problemas de saúde, sobretudo de ordem psicológica, a poeta comete suicídio, às 2 horas da manhã, no dia e na hora do seu aniversário de 36 anos.

Grupo de Estudo Florbelianos 

Lorenna Mesquita e Fabio Brandi Torres

[email protected]

+351 91.111.3626

Você achou esse conteúdo relevante? Compartilhe!







Lorenna Mesquita é, como diz Florbela Espanca, uma mulher, uma criança, uma artista que se julga alguém. No Facebook é administradora da página sobre Florbela Espanca- Florbela Espanca- Poeta No momento está com a peça Florbela Espanca, a hora que passa em cartaz em São Paulo no Top Teatro.