Perdoar não é esquecer

Imagem de capa: CHOATphotographer/shutterstock

Alguém que te é querido te magoou. Machucou. Doeu. Os olhos arderam, as lágrimas caíram e você sofreu. Pronto. Desde ponto em diante, a repetição é protagonista.

Tal situação vem repetidamente à sua cabeça. Sua mente lhe trai. Você rememora inúmeras vezes aquela mágoa causada por aquele alguém que você tanto ama. Revive a tristeza, revive a raiva, a irritação, a decepção que aquele episódio te traz. Isso te consome.

Normal. É esse o processo pelo qual todos nós passamos, quando magoados.

A memória, protagonista da vez, não precisa ser necessariamente a vilã nessa novela. Provavelmente será, se você se deixar consumir por ela. Por outro lado, se deixares apenas que ela exerça seu papel de mestre, a memória servirá como fonte de aprendizado. Só.

“Perdoar não é esquecer”. Esse é um trecho de uma das canções do álbum novo (Hard Times) do Paramore. A vocalista e compositora, Hayley Williams, que já passou por diversos desentendimentos com membros (e ex-membros) da banda, inevitavelmente fala sobre esses momentos, em suas letras.

Pois é, Hayley. Perdoar não é sinônimo de esquecimento. Perdoar, aliás, exige uma boa memória. Melhor: exige a capacidade de olharmos para trás sem desgosto nem amargura, capacidade esta que só adquirimos com o tempo, o terceiro protagonista dessa história.

“E você quer perdão, mas eu, eu não posso lhe dar isso ainda”, diz o eu-líricoda canção (Forgiveness), lembrando-nos de que cada um tem seu tempo e que não vale a pena fingir que perdoou. É esse tempo – o seu – que agirá na eliminação da mágoa, da dor, da raiva que nos consome. Se lhe for permitido, é claro.

Introduzo, agora, o último protagonista do enredo. O amor. O perdão pressupõe amor, para consigo mesmo, para com quem lhe magoou. Perdoamos porque amamos o suficiente para olhar para trás sem mágoas.

A jovem vocalista do Paramore fala em um fio invisível que a liga a quem a machucou. Arrisco dizer que essa linha, que não vemos, seja o amor.

Sei que soará totalmente clichê, mas é inevitável. É o amor que nos permite ver que não vale a pena se autodeteriorar por meio do passado. É o amor que nos livra do orgulho e nos faz perceber que, às vezes, um erro por parte de alguém que amamos não se sobrepõe à conexão que temos com a pessoa em questão.

Então, foi magoado? Reúna-se a esses quatro personagens. Monte seu roteiro. Perceba o nível de influência que cada um deles tem no enredo, de acordo com o contexto e suas próprias vivências. Veja o que lhe repete, qual a lição você pode tirar do que passou e, no tempo certo, o amor lhe dirá como e quando agir. Só não se deixe consumir.

Perdoar não é, afinal, esquecer, mas ser maduro o suficiente para saber lidar, porque, como diz a Hayley, em outra música (Grudges), “não podemos nos agarrar ao rancor!”.







Paraibana (Campinense) estudante de Psicologia que tem a cabeça nas nuvens, pés no chão e um fraco por causas perdidas.